No caminho para a casa da minha avó tinha um bar onde vários motoqueiros se encontravam nos finais de semana. Era, na verdade, uma oficina mecânica misturada com boteco, local ideal para juntar amigos que gostam de motores e bebidas. Sabe aquele tipo de lugar que mistura o negro da graxa e terra batida com aquele tom vermelho-dourado do uísque? Era em um local assim que eles se reuniam.
Eu gostava de almoçar lá perto aos domingo e ver todos aqueles caras mal-encarados que usavam roupas de couro, espinhos, correntes, bandanas e caveiras. Eles pilotavam motocicletas barulhentas e eu sentia o cheiro do escapamento das motos carburadas dentro do carro do meu pai.
Não entendia bem o que eles faziam lá, mas achava o máximo. Meu pai explicou que o grupo gostava de combinar viagens de moto juntos e se encontravam para conversar. Ele contou que eles se ajudavam bastante, consertavam as motos uns dos outros, trocavam peças e pneus, alguns até se ajudavam fora do universo do motociclismo, com grana ou conversas mais profundas.
Como uma família.
Há umas semanas, no dia 5 de abril, o Papo de Homem foi convidado a conhecer e competir na 1ª Etapa do Rally que a Mitsubishi organiza de graça, todos os anos, para os proprietários de um 4×4 da marca. Lá, eu conheci uma outra família.
Saímos de São Paulo na sexta-feira, o Felipe Ramos e eu, rumo a Campos do Jordão, região do Vale do Paraíba, interior de São Paulo. Chegamos logo no cair da noite e já fui andar pela região e conhecer melhor o local do evento. Imaginava que seria algo pequeno para vinte ou trinta carros, mas fui surpreendido quando cheguei no ponto de encontro e vi a poeira sendo levantada por mais de 270 veículos, todos 4×4 e devidamente adesivados, numerados e abastecidos, prontos para a largada do rally que aconteceu às 8 da manhã do dia seguinte.
Naquela noite, descobri porque os rallyes deles são os maiores (de monomarca) do Brasil.
Me senti novamente um garoto encantado com a estrutura gigantesca que recebia os participantes, com sala de briefing, estações de coffee break, equipe de apoio para dúvidas, imprensa e retirada de doações para a Casa Hope (de apoio à crianças com câncer). Observei com cuidado as mais de 600 pessoas que estavam lá no local e me lembrei muito daquele clima de união e amizade do moto clube que ficava ali perto da casa da minha avó.
Pessoas se cumprimentando, sorrindo, conversando sobre melhorias que fizeram em seus carros, batendo papos sobre família, futebol, passeios. O clima era muito mais de união do que de competição. O interessante é que não havia apenas duplas de competidores, muitas pessoas faziam o rally em família ou grupo de amigos.
Fiquei de pé de ouvido na conversa de dois caras que estavam ao meu lado, aguardando o briefing começar:
– Aquele cara ali grisalho com a esposa, faz uns 5 anos que eu o cumprimento, vejo ele em todas as etapas do rally. Ele é gente fina, até me indicou um comprador quando eu queria trocar minha Pajero, mas faz uns 3 anos que eu esqueci o nome do desgraçado e eu morro de vergonha de perguntar de novo.
Nomes se vão, mas o vínculo já está estabelecido. Voltando à prova em si, se tratava de um rally de regularidade: não venceria o competidor mais rápido, mas sim, aquele que conseguisse seguir o trajeto determinado pela organização, passando pelo pontos de controle no tempo correto.
Em cada carro participante, vai a abordo o piloto e um navegador. A função do navegador é dizer ao piloto para onde seguir, qual velocidade dirigir e o tempo que ele deve passar nos pontos de referência.
Não adianta ser rápido. Perde-se mais pontos por passar antes nos postos de controle do que depois. O importante é ser preciso e o piloto trabalhar em sinergia com o navegador.
Finalizado o briefing, fomos jantar em um daqueles clássicos restaurantes do bairro do Capivari, em Campos do Jordão, que servem truta, fondue e um bom vinho. O Felipe e eu aproveitamos para discutir quem seria piloto e navegador. Ele, mais atento e bom com números seria o cara perfeito para passar coordenadas e eu, mais tranquilo e experiente no volante, assumi a responsabilidade de piloto.
Na manhã do dia 5, nos preparamos para as 4 horas de terra com um bom café da manhã. Já na beira da pista, o nosso carronos esperava, uma L200 Triton, ainda com cheirinho de nova. Motor 3.2 diesel L com 180cv de potência e 38kg.f de torque. Como piloto, posso dizer que o carro fez o trajeto todo sem nenhuma dificuldade. Apesar do percurso ser para amadores, tive bastante confiança no que o carro podia fazer.
O divertido do rally é que o evento faz a cidade inteira parar. Os moradores vão se espalhando, curiosos, em alguns trechos mais tranquilos e acompanham os carros passarem. Alguns fazem torcida, há também quem tire fotos e filmam.
Era o nosso primeiro rally de regularidade e nossa colocação geral dentro da categoria Turismo Light (amadora) foi 32º entre mais de 150 participantes. A satisfação na nossa cara era óbvia. A premiação foi feita em um espaço criado pela própria Mitsubishi no local de chegada do rally, com almoço servido para todos os competidores.
Já na categoria Imprensa, nós conseguimos o 1º lugar, a frente do Auto Esporte e de alguns jornais locais do Vale do Paraíba. Nessa noite de sábado, a pequena cidade de Campos do Jordão, ficou cheia de 4×4 cobertos de barro. Como o mês de abril ainda é baixa temporada na região, para onde se olhava, se via um Mitsubishi.
Uma cidade de menos de 50 mil pessoas virou, por uma noite, uma única grande família. Curtimos um pouco mais a cidade e o clima de amizade transbordando e voltamos no domingo de tarde para São Paulo.
As próximas etapas do Rally da Mitsubishi:
Para quem quiser acompanhar os próximos eventos e sentir um pouco da aura da coisa toda:
- 10 de maio: Goiânia;
- 07 de junho: Curitiba;
- 23 de agosto: Uberlândia;
- 27 de setembro: Penedo;
- 18 de outubro: Joinville;
- 15 de novembro: Ribeirão Preto.
Caso você tenha um Mitsubishi 4×4 e queira participar, para se inscrever, é só entrar no site deles.
As inscrições para a próxima etapa começam no dia 28 de abril.
Aos jipeiros e amantes do mundo 4×4, que outras provas e rallyes vocês costumam participar que são bacanas?
Gerente de atendimento e curador do Apimentadas – Resolve problemas e acalma pessoas surtadas. Se acha diferente por não acompanhar futebol e gostar mais de mostarda do que de ketchup, é apaixonado por comida latino-americana e ceviche. Para mais informações consulte seu terapeuta.
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