Voz Populi, Vox Dei

A voz do povo é a voz de Deus.

por Renato Souza

Eduardo Campos (PSB) não entendeu

A sabedoria popular é algo realmente fantástico. Cresci ouvindo coisas das quais muitas vezes não fazia a menor ideia do que se tratava. Adulto, só fazia me encantar cada vez que descobria os significados.

A sabedoria popular no Nordeste, natural, tem muito a ver com o perfil do povo que aqui vive, e em vários momentos carrega consigo as coisas do sertanejo, aquele mesmo de Euclides da Cunha, que é, antes de tudo, um forte.

Já viram como o nordestino é extremamente religioso. Será que existe povo mais religioso do que ele? Difícil, muito difícil.

Quem foi se não essa religiosidade que segurou a barra do nordestino ao longo de todos esses anos de seca, sofrimento, vida miserável, ignorância, tudo causado pelo histórico desprezo dos governantes brasileiros?

Foi Deus. E Nosso Senhor Padim Pade Ciço.

Foi graças à sua fé inquebrantável que ele sobreviveu. “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”. E crente. Ele é forte na sua crença.

E na sua crença ele sabia que, como na Bíblia, um dia viria alguém que os salvaria daquele sofrimento. Alguém que tinha de ser como eles, que falasse como eles, que transpirasse como eles, que bebesse pinga como eles. Um deles, um nordestino.

É meu amigo, o nordestino é assim. Espera uma vida. Especialista em esperar.

Como diria Chico Buarque, esperando o sol, esperando o trem, esperando o aumento, desde o ano passado, para o mês que vem... mas talvez no fundo, espera alguma coisa, mais linda que o mundo, maior do que o mar...

E alguém, que saiu deles, voltou. Alguém que, ao contrário dos doutores que não sabem, aprendeu com a vida. E quem aprende com a vida se torna maior porque a vida é a maior coisa que existe.

Alguém que não se esqueceu de ninguém, mas que não conseguiu conter a preocupação com o seu povo.

Na sua memória, ali estava a mãe dele, ali era a mãe dele. E naquele colo ele voltou a se aninhar.

Se o Nordeste era a sua casa, Pernambuco era o quarto que ele não tivera para dormir. E o quarto onde a nossa mãe nos põe para dormir é algo sagrado.

Como nós, nordestinos de outros estados, podíamos ficar com ciúmes de Pernambuco, o seu berço? Para nós já bastava que ele estivesse por perto.

E ele fez um novo Pernambuco. E Pernambuco se iluminou, se vestiu com as suas cores mais alegres e dançou o seu melhor frevo. E o mundo viu Pernambuco como jamais o tinha visto.

Desaparece o nordestino. Surge o mito.

O nordestino duro, sofrido, do sol a pino, das mãos grossas, calejadas, não é de palavras. É um homem puro, simplório, humilde e tem um coração sensível, muito sensível. E só conhece uma linguagem; a que fala a ele, o coração.

Ele trouxe para um lugar muito especial do seu coração aquele que era um deles e o fez Deus.

Parece que Eduardo Campos não nasceu no Nordeste. Qualquer nordestino sabe que somos muito apegados a determinados sentimentos, particularmente aqueles que falam ao coração.

Dois são muito fortes: gratidão e fidelidade.

Se a política ama a traição, mas abomina o traidor, o nordestino abomina ambos.

A verdadeira campanha política ainda não começou. Não consigo imaginar o que poderá acontecer quando os nordestinos perceberem que o seu coração foi atingido por uma bala, a da traição. Justamente por um... nordestino.

Não aquele que mora ao lado do Padim Pade Ciço.

Outro.

Esse momento está pra chegar.

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