Fernando Brito - o guarda chuva da Dilma

Nos anos 80, um grande amigo, engenheiro e competentíssimo, era secretário de Obras do Rio de Janeiro.

Tinha acontecido um destes temporais de verão (destes que o verão deste ano não teve) e ocorreram alagamentos na cidade.

Conversando com jornalistas, explicava algumas obras contra cheias que estavam sendo feitas e uma "foquinha" perguntou se, com elas, ele podia garantir que não haveria mais alagamentos no Rio.
Ele, descontraído, explicou que o Rio era uma cidade de montanhas e vales, e de chuvas intensas de verão e que ninguém poderia dizer que jamais ocorreriam alagamentos, mesmo com milhares de obras. E brincou, dizendo que só se poderia garantir isso se houvesse um imenso guarda-chuva sobre o Rio.

A falta de senso crítico da repórter e a molecagem do editor daí tiraram a manchete que ilustrava as fotos do temporal: Secretário de Obras diz que só guarda-chuva pode evitar enchentes.

Alguém poderia contar esta história aos assessores de imprensa da Presidenta Dilma e às autoridades do Governo Federal.

Conversar com jornalistas da grande imprensa no Brasil, mesmo no clima ameno de um jantar, é algo semelhante àquela frase dita nos filmes policiais americanos: tudo o que você disser poderá e será usado contra você.

É assim com a história de que "não está tudo bem" com a inflação, mas que ela "está sob controle".
É obvio que a frase iria ser a manchete do encontro de Dilma com as jornalistas, ontem.

E, claro, roubaria a cena de tudo o mais que a Presidenta disse – e com muita propriedade – no encontro.

Ou será que a Presidenta imaginava que dariam manchete para sua declaração de que seria "má-fé" qualquer tentativa de repartir o problema da seca em São Paulo com o Governo Federal?

Talvez a presidente não tivesse sido informada que, enquanto jantava, o Jornal Nacional dedicava uma matéria de dois minutos sobre o risco de apagão e nadinha sobre o drama de São Paulo.

Não adianta que, objetivamente, o Brasil esteja a quilômetros do caos do passado.
Todos os dias, jornais e TVs o colocam à beira dele.
E não vai ser diferente até outubro.

Sempre que Dilma tentar se comunicar com o povo por intermediários, o resultado será este: o acessório, a franqueza, a sinceridade e a racionalidade serão sempre usados contra ela.
Não é algo pessoal ou consciente, até, para muitos profissionais.

É porque a mudança, no Brasil, tem um sentido de causa, de paixão, de entrega que os jornais brasileiros nunca tiveram e que os jornalistas brasileiros perderam.

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