O petista rebelde
Não é difícil entender a personalidade histriônica, iconoclasta e combativa do blogueiro Rodrigo Pilha, militante petista.
Pilha vem fazendo o que quase todo petista gostaria de fazer mas não faz por motivos de prudência, cautela ou, simplesmente, medo.
De uma forma geral, o PT se acostumou a apanhar calado desde o Mensalão. Se foi um erro histórico, ou um acerto primoroso, o tempo dirá.
Para jovens idealistas com pouco a perder como Pilha, não reagir é uma provação. Imagine você, jovem, ver, sistematicamente, seu pai ou avô serem insultados.
As duas ações que projetaram Pilha ao centro do noticiário parecem se encaixar neste perfil psicológico.
Que petista não gostaria de dizer certas coisas a Joaquim Barbosa, como Pilha fez numa noite recente em Brasília?
Mas quantos têm a bravura, ou a irresponsabilidade, necessária para fazer o que ele fez? Barbosa teve que dormir com aquelas palavras escarnecedoras, e foi obrigado depois a vê-las reproduzidas nacionalmente na mídia.
Da mesma forma, Pilha realizou a fantasia de muitos petistas ao se acercar do senador Aloysio Nunes e lhe fazer perguntas que repórter nenhum na mídia domesticada ousa fazer.
A primeira e essencial: se Nunes vê tantas virtudes em CPI, por que seu partido sistematicamente as bloqueia em São Paulo, na Assembleia Legislativa?
Depois, Pilha perguntou a Nunes sobre sua alegada participação no escândalo das propinas do metrô.
O senador não foi nada estoico. Mandou Pilha para a puta que o pariu. Provavelmente não imaginasse que o vídeo precário que Pilha estava fazendo seria publicado e ganharia ampla repercussão.
A Era Digital tem dessas coisas.
Os desdobramentos do caso são igualmente fascinantes quanto o caso em si. O senador alegou – numa versão comprada integralmente pela Folha – que o vídeo postado por Pilha fora editado para não mostrar uma garrafa de água que lhe teria sido atirada.
Mais uma vez, a internet mostrou que as coisas hoje são diferentes.
Pilha postou um vídeo em seu Facebook em que aparece a tal garrafa da água. Mas não da maneira como Nunes e a Folha disseram.bClaramente, a garrafa é jogada no chão, lentamente, teatralmente. Pilha usa a garrafa para se referir à falta de água em São Paulo.
Mas o senador, com o apoio da Folha, viu ali uma agressão. Fingiu ver, é melhor.
Foi uma coisa tão despropositada, como se viu num segundo vídeo postado por Pilha, que logo surgiu a associação com a bolinha de papel que vitimou, aspas, Serra na campanha de 2010. Em vez da chancela da Folha, daquela vez o apoio ao atentado da bolinha de papel foi dado pela Globo, numa memorável reportagem no Jornal Nacional em que um especialista provava – pausa para rir, de novo – o atentado petista contra Serra.
Pilha é, de alguma forma, uma resposta ao padrão conciliador estabelecido por Lula no começo de seu mandato em duas ocasiões.
A primeira foi quando assinou uma Carta aos Brasileiros nas qual se comprometia, em resumo, a não se esquerda. A segunda foi quando ele compareceu ao funeral do homem que fez tudo para destruí-lo, Roberto Marinho.
O PT demonstrou, então, que não seguiria o caminho de outras administrações de esquerda, como a de Chávez na Venezuela e, mais recentemente, a de Correa no Equador. Ou mesmo a de Cristina Kirchner, na Argentina.
A conciliação de Lula foi, desde o princípio, encarada como fraqueza pelo 1%. Na mesma medida em que o PT tirou o pé do acelerador, a mídia – que é a voz do 1% – acelerou, e a Veja é apenas o caso mais extremo no abandono do jornalismo por motivações políticas.
Como a história verá tudo isso?
Caso Dilma perca – uma possibilidade remota, mas que não pode ser ignorada –, o PT verá que deixou de promover mudanças essenciais para as quais teve doze anos de poder.
Um exemplo disso é uma lei que determine limites para a mídia, algo que toda sociedade desenvolvida tem. Outro é uma máquina de verbas oficiais que alimentam pouquíssimas empresas e tornam bilionários seus donos – que se batem pela manutenção de privilégios que levaram o Brasil a ser um dos campeões mundiais de desigualdade social.
Caso Aécio se eleja, esqueça uma Lei de Mídia, ou alguma mudança na distribuição de verbas que no final patrocinam Jabor, Sheherazade, Datena, Azevedo etc etc.
Pilha é talvez um novo PT, mais aguerrido – mas que pode ter chegado tarde demais para verdadeiramente mudar as coisas.
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
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