Pré-candidato do PSDB à Presidência da República, o senador Aécio Neves, de Minas Gerais, está às voltas com uma velha maldição tucana: achar um candidato a vice minimamente viável. Não tem sido nada fácil, dadas as opções disponíveis.
A aposta mais recente atende pelo nome de Ronaldo Luís Nazário de Lima, o ex-jogador Ronaldo Fenômeno, dublê de empresário e cristão-novo nos ataques à preparação para a Copa do Mundo – da qual, aliás, ele faz parte – como forma de apoiar o amigo.
Os dois andam juntos desde o tempo que Aécio, governador, também cumpria mandato informal de embaixador de Minas Gerais no Rio. Mas o jogador e o candidato não são só parceiros de baladas, como revelou Ronaldo em entrevista ao jornal Valor Econômico. Também iam à praia, sabe-se agora.
Em 2012, o jornalista Bruno Astuto, da revista Época, havia antecipado essa chapa, supostamente avalizada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O mesmo balão de ensaio voltou a ser aquecido no último final de semana, em Porto Alegre, quando Aécio compareceu ao lançamento da senadora Ana Amélia Lemos (PP) ao governo gaúcho.
Por afinidade ideológica, Aécio a queria como companheira de chapa. Seria bom para ele reafirmar a opção preferencial pelo Estado mínimo, o neoliberalismo e o empenho em tomar as tais "medidas impopulares", que tem apregoado. Ana Amélia, um símbolo vivo desses ideais, não quis.
Ao ser cogitado, Ronaldo prestou um serviço ao amigo, obrigado a conter o coro de "com quem será" e evitar o assédio de gente como o deputado federal Jair Bolsonaro, do PP do Rio de Janeiro, que se ofereceu para a vaga por ver em Aécio um legítimo representante da direita nacional. Ou mesmo para fugir de aliados sem carisma algum, como o atual governador de Minas, Alberto Pinto Coelho, também do PP.
A escolha de Ronaldo, contudo, é condizente com os planos que Aécio costuma fazer quando lhe faltam opções. Para o governo do Rio, ele tentou, sem sucesso, um esportista de sucesso semelhante ao de Ronaldo, mas afeito a cortadas e bolas levantadas na rede: Bernardo Rocha de Rezende, o Bernardinho.
O técnico da seleção brasileira masculina de voleibol, em entrevista ao Valor, declinou ao convite de forma retumbante. "Deixar minha vida, que é onde ganho dinheiro junto com meus patrocinadores, e viver pisando em ovos, com cartão de gastos corporativo, sem saber o que pode gastar ou não pode gastar, divulgar meu patrimônio. Ia dar uma confusão", previu.
O fato é que vice não é coadjuvante. Não precisa ser amigo e sim influenciar pessoas. A vaga representa o apoio de um setor da sociedade ou de um partido político articulado nacionalmente. Basta ver o peso de Marina Silva na campanha de Eduardo Campos, pré-candidato do PSB.
Aécio sabe que lançar mão de uma chapa puro sangue seria um limitador, mesmo se a escolha pender para a deputada Mara Gabrilli, do PSDB de São Paulo, que representa o importante segmento social das pessoas com deficiência. A opção por Aloysio Nunes Ferreira ou, se Aécio tiver coragem, José Serra, serviria apenas para acomodar a dissidência à candidatura de Aécio dentro do PSDB.
A ex-ministra do Supremo Tribunal Federal Ellen Gracie, também cogitada, faria falta na chapa tucana no Rio de Janeiro. E os boatos sobre o nome de FHC apenas sinalizam como a situação está difícil para achar um nome.
Aécio se auto intitulou "candidato do agronegócio" e tem procurado empresários diariamente. Mas cometeu o erro de criticar o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que tem sido a base da política industrial e fornecedora de maquinário para os agricultores. Erros como este, o de recitar a pauta dos bancos, dificulta ter um "representante do PIB", como se costuma dizer, ao seu lado.
Talvez lhe reste mesmo Bolsonaro. Aliás, um parceiro ideal para quem pretende reduzir o Ministério da Justiça ao da Segurança.
Da Redação, da Agência PT de Notícia
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