A Copa do verme

Jornal GGN - Joaquim Barbosa pediu para ocupar por mais um mês a cadeira do presidente da Suprema Corte. Coincidência seria a decisão tão relevante ter sido tomada um dia antes da semifinal da Copa do Mundo, entre Brasil e Alemanha.

Mas a política pão e circo não foi isolada: Barbosa também tomou outra iniciativa de alta relevância, na véspera do último jogo da seleção, quando isentou José Roberto de Arruda, denunciado no "mensalão do DEM", de ser julgado pelo STF para o caso ser remetido à primeira instância.

Naquela sexta, as manchetes estampavam a ansiedade da partida. Em menor espaço, a notícia de Arruda, sem pretender concorrer com a manchete principal. Ficou meio escondida, ainda que invertendo a intenção de Barbosa: não era o presidente do STF livrando Arruda do julgamento na mais alta corte, mas o "heroi", agilizando o início do julgamento.

Voltemos ao início da Copa.

O show de abertura estava marcado para o dia 12 de junho. O advogado de José Genoino, Luiz Fernando Pacheco, utilizara todos os meios possíveis para que o pedido de prisão domiciliar de seu cliente fosse analisado. Pressionava desde maio. Não suportou a procrastinação, e "rogou à Vossa Excelência" no Plenário do Supremo. Joaquim Barbosa não pensou duas vezes, e agiu com truculência. "Sorte" que este show ocorria no dia 11, um dia antes da abertura do Mundial.

Ainda assim, a atitude tomou proporções não esperadas por Barbosa. No mesmo dia, a OAB emitiu nota de repúdio, afirmando que "o presidente não é intocável" e que "sequer a ditadura chegou tão longe no exercício da advocacia".

A saída foi tentar reverter os papeis de vítima-réu. Ainda no dia 11, favorecido por ser o dia que não teria espetáculo maior que a Copa do Mundo, armou a acusação improvável de que o advogado estaria embriagado – informação transmitida por um dos seguranças.

Sustentando a condição de vítima, ameaçado por forças ocultas e pelo poderoso advogado, Joaquim Barbosa abandonou a relatoria da Ação Penal 470, o "mensalão". A grande mídia tratou como um gesto de protesto heroico. Mas o motivo é que, para entrar com uma ação contra o advogado, seria necessário afastar-se do caso. 

A abertura da ação penal e a saída de Barbosa ocorreram um dia antes do segundo jogo do Brasil na Copa do Mundo, contra a Croácia.

Mas a batalha não era só de Genoino. Era também de Dirceu, Delúbio e dos demais condenados a regime semiaberto que estavam cumprindo o fechado, pelo protelamento por Joaquim Barbosa.

Nesse período, contrariou jurisprudência de 15 anos, em que o Judiciário resolve pelo humanitário, de considerar o emprego uma forma de reinserção social do preso. 

Foram três pareceres da Procuradoria Geral da República em favor do trabalho de Dirceu: uma, contrariando a investigação sobre o suposto uso de celular, que estaria impedindo o emprego; outra, pelo acolhimento do parecer da Seção Psicossocial de que Dirceu poderia trabalhar; e mais uma, considerando incondizente a necessidade de se cumprir 1/6 da pena, antes de ter o direito ao semi-aberto.

Não havia mais saída para que Barbosa sustentasse sua intransigência.

Em muito ultrapassado o calendário para se decidir sobre o assunto, teve que dar o braço a torcer. No dia 23 de junho, fez o agendamento, para a quarta-feira seguinte. Mas oportunamente no dia do terceiro jogo do Brasil, contra Camarões, já em situação decisiva. A nossa seleção precisava vencer a partida para continuar no Mundial.

E na quarta-feira, dia 25, retomou a pose. Sequer compareceu ao Plenário da Suprema Corte.

O próximo jogo, na fase mata-mata, contra o Chile, era um sábado (28).

As últimas duas recentes partidas já foram mencionadas. Dessa vez, o jogo mais difícil do Brasil suprirá a vergonha de ter mobilizado todo o país para a sua saída imediata, que era final de junho, e desfazer o artifício.

Vencendo ou não, a Copa do Mundo brasileira termina em cinco dias.

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