A não ser que uma grande surpresa ocorra, Dilma se reelegerá presidente em outubro, e provavelmente no primeiro turno.
Sua maior arma não é nada ligado a ela diretamente. Nestes seus anos, a economia cresceu pouco, a inflação teve alguns espasmos e o Brasil deixou de ser o menino prodígio que foi, sob Lula, aos olhos do chamado mercado internacional. Não bastasse isso, há um desgaste na própria esquerda, por conta da repressão policial em manifestações de protesto.
O grande trunfo de Dilma está na fraqueza extraordinária de seus principais adversários, Aécio e Eduardo Campos.
Nos Estados Unidos, aconteceu uma coisa semelhante nas últimas eleições presidenciais. Obama levou menos por seus méritos e mais pela ruindade extrema de seu adversário republicano, Mitt Romney.
Em sua apoteose ao contrário, Romney disse que caso se elegesse iria esquecer quase metade dos americanos, exatamente os mais necessitados.
As duas sabatinas recém-promovidas por um grupo de marcas jornalísticas estampam o deserto de ideias que são Aécio e Campos.
Vejamos, primeiro, Aécio. O maior destaque que o UOL conseguiu dar às falas de Aécio foi o compromisso de que ele manteria o Bolsa Família e o Mais Médicos.
Será que ele e equipe não têm uma única ideia de programa social para apresentar aos eleitores?
Pelo visto, não.
E a sociedade clama por fatos novos na área social, coisas que beneficiem os mais pobres e reduzam a desigualdade brutal do país.
Não é apenas a falta de novas propostas que incomoda. Aborrece também a maneira com que Aécio abraça programas que ele execrou antes, e que simplesmente não existiriam se ele tivesse poder para bloqueá-los.
O Bolsa Família era o Bolsa Esmola. E o Mais Médicos era um insulto à classe médica brasileira. Não, mais que isso: a todos nós, brasileiros, vivos e mortos.
Pois de repente o Mais Médicos fica bom, e Aécio garante sua manutenção a cada entrevista mais profunda que dá.
Eu respeitaria a mudança de opinião se ela fosse precedida de um honesto pedido de desculpas. "Amigas e amigos: errei na avaliação do Bolsa Família e do Mais Médicos. Achei que eram ruins coisas que eram boas e podem ser ainda melhores. Perdão."
Mas não. Mais um pouco e Aécio vai posar como autor das ideias.
Segundo relatos publicados no UOL, a plateia teve um papel importante na sabatina de Aécio.
Boa parte dela era composta de líderes do PSDB. Um deles era Serra, que chegou atrasado. A composição favorável da audiência levou a palmas em dose generosa. E também a comentários entre os presentes como este registrado pelo UOL: "Pena que os entrevistadores são petistas."
Pausa para rir.
Um dia antes, o sabatinado fora Eduardo Campos. Para ser mais que um figurante de olhos azuis nas eleições, Campos tem que apresentar ideias novas.
Mas de novo: quais?
A frase considerada mais importante pelos editores da sabatina dizia mais ou menos o seguinte: "Dilma vai ser a primeira pessoa, desde a redemocratização, a entregar o país pior do que recebeu."
É a chamada platitude, chavão, lugar comum. Como não tem tanto tempo assim no programa eleitoral gratuito, Campos tem que se concentrar em suas ideias. Todos sabem – afinal ele é candidato de oposição – que ele tem má opinião sobre Dilma.
Pode e deve ganhar tempo, portanto, sem repetir o que já é de conhecimento universal.
O momento mais revelador da sabatina de Campos veio na forma de um número milionário. Ele disse que iria construir 4 milhões de casas.
Promessas desse gênero remetem a velhas campanhas, em que os candidatos pareciam acreditar poder vencer uma eleição usando um número maior do que o de seus adversários.
Ou não tão velhas assim.
É um clássico, nas eleições de 2010, a promessa de Serra de que não apenas iria manter como dobraria o Bolsa Família.
Já ali Dilma mostrava ter sorte no quesito adversários — o que é um formidável atributo para qualquer candidato.
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
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