Na campanha de Dilma Rousseff, a argumentação econômico-financeira está sendo elaborada pelo Ministro-Chefe da Casa Civil economista Aloizio Mercadante.
Aqui vai um resumo de uma conversa de mais uma hora com Mercadante.
A cobertura da Copa
Mercadante invoca a cobertura da Copa pelos jornais para reforçar a tese de que parte da responsabilidade pela quebra das expectativas empresariais decorreu de uma cobertura terrorista da imprensa e do fato de esconder os pontos positivos do país e que, nesse período, a economia se robusteceu.
Pede que se compare a cobertura da mídia pré-Copa e os resultados alcançados.
No Palácio do Planalto foi montada uma super-sala de situação, em que todos as pessoas envolvidas com a Copa acompanhavam o que estava sendo feito em tempo real, através de telões, com imagens monitoradas por GPS.
Até hoje não há noção clara sobre o que foi o feito de organizar a Copa.
Foram construídas algumas das maiores obras de mobilidade urbana nas principais capitais, como a Transcarioca, no Rio, ou a BRT no Distrito Federal.
Houve um aumento de 69 milhões de passageiros/ano nos aeroportos. No dia da inauguração, o maior destaque da imprensa foi uma goteira em um deles. No dia da inauguração do Itaquerão, o destaque foi a falta de sabonete em um dos banheiros.
A segurança mobilizou 157 mil homens, responsáveis pela escolta de 54 chefes de estado e personalidade em geral e de todas as seleções. Tudo sem um problema relevante.
Na sala de situação estava a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) monitorando o setor elétrico; a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) monitorando a saúde; a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) monitorando a telefonia; Polícia Federal, Rodoviária, Exército, Aeronáutica, Marinha (patrulhando os estádios em capitais litorâneas) monitorando a segurança. E toda essa gestão sendo feita em tempo real, com imagens em GPS de todas as seleções, imagens aéreas de todas as rotas por onde iria passar.
Todos esses preparativos foram ignorados pela mídia, que criou um clima de terror até começar a Copa. Não reconheceram a competência do Estado brasileiro e projetaram uma imagem falsa de gestão.
É desse paralelo – entre a cobertura da Copa e a cobertura das políticas públicas – que Mercadante se vale para explicar o clima pessimista que se implantou no país.
Da tempestade perfeita à inflação do tomate
Esse mesmo modelo de cobertura distorcida foi aplicada na economia e contribuiu para derrubar o estado de espírito dos empresários.
Nos últimos anos foram criados os seguintes fantasmas:
1. A “tempestade perfeita”.
Imaginou-se um cenário de alta de juros nos Estados Unidos e de queda nos preços internacionais de commodities que levariam inevitavelmente a uma crise cambial brasileira. O país protegeu-se com reservas de US$ 380 bilhões e, agora, com um acordo de contingência reserva no novo banco dos BRICs. Não houve tempestade alguma
2. O descontrole da inflação. expresso no terrorismo com a chamada inflação do tomate.
Jornais e TV chegaram a produzir matérias comparando o momento atual com o da hiperinflação. Houve problemas de seca, de quebra de safras, choques de commodities mas a inflação continuou dentro da meta. As prévias deste mês mostram a inflação cedendo.
3. Apagão do setor elétrico com a crise hídrica.
Há uma seca corroendo o semiárido nordestino há dois anos e meio. Em cima disso, levantou-se o fantasma do “apagão”. Não levaram em conta que nos últimos onze anos o país construiu 11 mil km de novas linhas de transmissão e ampliou de 80 gwh para 132 gwh a capacidade de geração. Não houve apagão. As térmicas seguraram e , para tanto, houve um aumento de custos. Como o sistema é regulado, as distribuidoras poderão reajustar suas tarifas nas datas definidas em contrato.
4. A crise hídrica de São Paulo criando um novo cenário de imprevisibilidade.
Segundo Mercadante, ao lado dos fatores midiáticos, há elementos reais explicando a crise.
O maior deles seria a segunda etapa da crise mundial, com o PIB norte-americano refluindo, a Europa e a Rússia patinando e a Argentina enfrentando problemas. No fim do ano passado, o próprio Banco Mundial projetava um crescimento dos países desenvolvidos, que acabou não acontecendo.
A retração do crédito, devido ao enquadramento nos acordos de Basileia.
Essa queda ocorreu em todo mundo, prejudicando o desempenho da economia mundial. E obriga a uma discussão interna: qual deverá ser o ritmo de enquadramento dos bancos brasileiros às regras de Basiléia 2?
O que seria um governo Aécio
Segundo Mercadante, haveria duas diferenças essenciais entre o estilo Dilma e o chamado estilo PSDB de administrar a crise.
A primeira, da maneira como ambas as políticas impactariam a população. No governo Dilma o social é o objetivo estratégico, em um governo tucano, não. “A grande diferença é que viemos para distribuir renda, fazer inclusão social e criar um mercado de consumo de massa”., diz ele.
Diferentemente da Europa, que está desmontando o estado de bem estar social, o Brasil está mantendo o nível de quase pleno emprego, renda, crescimento dos salários, maior distribuição da história do Brasil e pela primeira vez os pobres não pagam o custo da crise.
Muitas das medidas fiscais visaram esse mesmo objetivo, diz ele. A desoneração da folha de pagamento foi para preservar o emprego.
Esse é o verdadeiro debate, diz ele. “Se (equipe de Aécio) querem tratamento de choque, digam o que vão fazer. Vamos fazer o debate verdadeiro”.
A diferença entre o tratamento gradualista – do governo Dilma – e o de choque – do governo FHC – está expressa na própria taxa Selic. No governo Dilma, bateu no teto de 11,5%. Em 2002, fim de governo FHC, estava em 45%.
Em 2002 o desemprego saltou para 11,7% e a informalidade para 51,6%; hoje o desemprego está em 4,9% e a formalização em 67,6%.
A segunda diferença está no uso das estatais. Os bancos públicos foram essenciais para ajudar o país a superar a crise de 2008, garantindo o crédito à economia.
Já o principal porta-voz econômico de Aécio, Armínio Fraga, defendeu publicamente a privatização do Banco do Brasil e da Petrobras.
Sabendo das limitações de um Ministro em analisar o trabalho de outro, poupo Mercadante de perguntas sobre os erros da gestão Guido Mantega.
Os desafios da economia
Mercadante reconhece a prioridade de aumentar a competitividade. Mas diz que o caminho está aberto.
Nas áreas de educação e inovação aponta para a massificaçãoo do ensino superior e do ensino técnico, os 7,5 milhões de matrículas na Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego. Institucional), 1,4 milhão no Prouni (Programa Universidade para Todos), 1,6 milhão no FIES (Financiamento Estudantil), os 85 mil alunos do Ciência Sem Fronteiras.
“Estamos tentando mostrar que é possível compatibilizar responsabilidade fiscal com políticas de renda e inclusão social”, diz ele.
Na infraestrutura, aposta na aceleração dos investimentos a partir de 2015.
O governo brasileiro acaba de receber uma proposta da China, para ima ferrovia ligando o Atlântico ao Pacífico, a Transoceânica, com 5.300 km de extensão, ligando o brasil ao Peru, com túneis de 19 km nos Andes, podendo transportar até 55 milhões de toneladas de grão por ano, reduzindo em 30 dólares por tonelada exportada.
A ferrovia entraria no Peru pelo Acre encontrando a Norte-Sul. O projeto já está em fase de detalhamento.
As eleições e o déficit de informação
Segundo ele, o início do horário gratuito será plenamente favorável a Dilma Rousseff. Os jornais esconderam os principais temas, diz ele. O eleitor não sabe do 1,7 milhão de moradias do Minha Casa Minha Vida.
Chama atenção para dois temas: Pronatec e ENEM. Segundo ele, o ENEM é o segundo tema mais discutido na Internet do país, segundo dados do Google; e o Pronatec é o sétimo. E nenhum dos dois merece acompanhamento da mídia.
Uma evidência disso, segundo ele, estaria no fato de que FHC em 1998 e Lula em 2006 (ambos candidatos à reeleição) chegaram ao início do horário gratuito em posição inferior à da Dilma. O grande salto foi com o início da campanha na televisão aberta.
Nas ultimas eleições Dilma teve 10 minutos diários contra 7 de José Serra e 1,40 da Marina
Agora tem 11,48, Aécio 4,30 e Eduardo 1,50.
Rebate as supostas popularidades de Eduardo Campos em Pernambuco e Aécio em Minas. Em Pernambuco, Armando Monteiro (da oposição) conta com 43% das intenções de voto; e em Minas Gerais Fernando Pimentel lidera em todas as pesquisas.