A melhor parte de uma viagem é o caminho, não o destino
Depois de 33 dias de viagem e mais de 8 mil quilômetros percorridos, estou de mochila pronta para voltar para casa. Mas não sei se é exatamente isso o que vai acontecer depois que a estrada acabar.
O apartamento vai estar lá, mas, provavelmente, quem volta não sou “eu”.
Em 2010, tive a chance de participar de um reality show na África do Sul, durante a Copa do Mundo. Assisti aos jogos, conheci 15 cidades do país e fiquei com uma coceira: me jogar em uma experiência parecida no Brasil. Quatro anos depois, o PapodeHomem topou a empreitada.
Primeiro, foi São Paulo que ficou para trás. Depois, Manaus, Cuiabá, Brasília, Picos, Fortaleza, Natal, Recife, São Miguel dos Milagres, Salvador, Vitória da Conquista e Belo Horizonte. Por fim, o Rio de Janeiro também teve sua vez. Em cada um desses lugares, conversei com pelo menos uma pessoa sobre a Copa que não se vê do sofá de casa. Dá para questionar o torneio e ainda ganhar dinheiro com ele? O turismo sexual aumentou? A cidade melhorou? Alguém que perdeu uma casa para um estádio ainda tem vontade de assistir aos jogos?
Fiz as perguntas, mas consegui bem mais do que esperava com as respostas.
Por mais que o hábito de viajar tenha feito parte de meus feriados e férias desde a infância, há algo de diferente na experiência de se lançar sozinho entre uma cidade e outra, disposto a encontrar alguém para conversar. Entre você, o som do motor e as músicas que saem da caixa de som, uma viagem solitária é, em última instância, território do silêncio. Na estrada, a cada parada para dormir ou abastecer, são os seus pensamentos que lhe fazem companhia. Nos diálogos, a cada pessoa que lhe ouve e conta sua história com o coração aberto, você também se abre um pouquinho.
Durante os quilômetros que percorri, fui muito bem recebido na casa de grandes amigos e de estranhos que se tornaram amigos. Caminhei e me sentei, sem fazer nada, sempre que pude. Senti saudade. Tomei porrada de cassetete. Escrevi com uma frequência que não adotava há muito tempo e abri a cabeça para a fotografia, paixão que fazia questão de deixar adormecida.
Olhei para dentro.
Eu, que faço planos, traço metas e as abandono sempre que posso, entendi que não faz sentido abrir mão de fazer escolhas no presente com medo do que elas possam comprometer no futuro. Deixar o emprego de lado e bater perna pelo mundo não é abandonar nada, é abraçar outra coisa. Estar junto de alguém por inteiro não é deixar de conhecer pessoas, é escolher aquela que você não cansa de conhecer. Parar naquela cidadezinha no meio do nada não é atrasar a viagem, é viajar também.
Com o espírito certo, não são as casas, prédios ou vegetação que ficam diferentes a cada reta ou curva da estrada. Somos nós.
O Papo de Copa
Viajar, conversar, fotografar, contar histórias. No caminho que escolhi para viver uma Copa do Mundo diferente, o futebol dividiu seu espaço com a vida de cada uma das pessoas que resolveu compartilhar comigo um pouquinho de si. Conheça (ou lembre-se de) alguns deles nas fotos e links abaixo. Para conferir todos os textos, acesse nosso Álbum de Figurinhas.
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Por fim, gostaria de agradecer à Ford pela presteza em viabilizar o empréstimo de um Ecosport por todo o período da expedição. Sem um carro que aguentasse o tranco e a confiança da parceria, uma aventura como o PapodeCopa não seria possível.
É mineiro, jornalista, fotógrafo, devoto de Hunter Thompson e viciado em internet. Quanto mais abas abertas, melhor.