Relato no Facebook do Conversa Afiada
Ives Möller - A VENDA MAIS MARCANTE DE MINHA VIDA
Durante 2 anos fui corretor de imóveis de grande construtora em Curitiba, quase sempre atendendo clientes para o programa Minha Casa Minha Vida, do Governo Federal. Há muitas histórias marcantes, alegres, relatos felizes, sonhos construídos, mas sem dúvidas há um destes contos bem mais emblemático que os demais.
Era o mês de dezembro de 2010, uma tarde nublada, eu estava de plantão na Central Bairro Alto (então famosa por ser muito pouco frequentada pelos clientes). Comigo estava a colega Cristiane Souza, como cheguei primeiro atenderia o primeiro cliente que entrasse no local. Para nossa surpresa dois carros entraram ao mesmo tempo no estacionamento – um Corcel II caindo aos pedaços, e uma Hyundai Tucson novinha. Criou-se então aquela expectativa (e torcida) para ver qual dos dois clientes entraria primeiro no plantão.
Do Hyundai saiu um casal bem aprumado, no melhor estilo "mauricinho e patricinha" de ser. Do Corcel II saiu um casal bastante simples, chinelinho de dedo, e foram justamente os primeiros a entrar no plantão, lembro de perceber um sorrisinho no rosto da minha colega, e eu fui atender o casal, que chamarei aqui de Pedro e Joana.
Pedro era um senhor mulato, tinha pouco mais de 50 anos, era Pedreiro. Joana era pouco mais jovem, auxiliar de cozinha. Ambos juntos somavam renda de aproximadamente dois mil e duzentos reais, portanto se enquadravam no programa Minha Casa Minha Vida do Governo Federal. Feitos os cálculos, para adquirir um apartamento de dois quartos eles precisariam dar pouco mais de quatro mil reais de entrada, "este dinheiro eu tenho!", senhor Pedro exclamou entusiasmado. Na mesa ao lado eu ouvia o rapaz da Tucson reclamar "esta entrada está muito alta, tem como parcelar?".
Graças ao recente emprego de Joana, Pedro estava há algum tempo guardando uma poupança de quatrocentos reais por mês, tendo acumulado valor próximo de sete mil reais, que nos permitia reservar três mil reais para os custos com o registro do imóvel. A prestação de sua casa nova ficaria em R$660,00, decrescentes, e totalmente compatíveis com seu padrão de renda. Negócio fechado, combinei de ir até sua casa no dia seguinte assinar a documentação. Não por acaso, o motorista da Tucson, atendido por minha colega, saiu do local pestanejando e reclamando do Programa Habitacional.
Senhor Pedro residia em Colombo, região metropolitana de Curitiba. No terreno que pertencia à sua mãe todos os irmãos foram construindo como o espaço permitia, formando sem critério ou planejamento um cortiço muito parecido com o da fotografia acima. Minha esposa, Sidneia Franco me acompanhava. A casa de Pedro era uma das últimas, o acesso se dava por um caminho cheio de lama, entre roupas penduradas no varal e muitos cachorros que latiam sem parar. NA PORTA DE ENTRADA DO CASEBRE, VIRADO PARA O LADO DE FORA, UM PÔSTER GIGANTE COM A FOTO DE UM BARBUDO E OS DIZERES "LULA 13″.
Há não muito havíamos saído do pleito que elegeu Dilma presidente, mas ele ainda trazia com orgulho seu a foto de seu ídolo para que todos pudessem ver, ídolo que lhe permitiu uma ascensão social sonhada mas nunca possível.
Dentro da casinha havia geladeira nova e uma reluzente TV 42" na pequenina sala (Pedro ganharia mais uma com a compra do apartamento, ainda brincamos que ele poderia dar televisão de presente). Agora ele, um pedreiro de 50 anos, que morou a vida toda de favor, tinha um imóvel próprio, e duas TVs 42" na parede.
Poderia aqui falar que a corrupção sempre existiu, que com o PT é que verdadeiramente a corrupção começou a ser combatida e por isto muitos foram presos, inclusive do próprio partido. Que há rankings de corrupção e o PT está bem longe da primeira posição. Que a mídia predominante enaltece denúncias contra o PT e ameniza denúncias contra outros. Poderia também rebater vários dos boatos inventados sobre integrantes do Partido e seus familiares. Poderia falar sobre o que e a quem convém muita coisa…
Mas na verdade, não importa o que falem do PT, de seus líderes, quantos mais escândalos possam inventar ou revelar, podem até prender a Dilma amanhã se quiserem (e puderem). Mas ainda assim eu, e estou certo que também o Senhor Pedro, votaremos 13 em todos os campos nesta e em outras eleições. Reconheço que o país tem muito a desenvolver em educação, em segurança, em saúde, em infraestrutura. Mas eu lembro onde estávamos há 12 anos, sei onde chegamos hoje, e reconheço todos os avanços sociais pelos quais passamos neste processo, e isto não há denúncia ou mácula que apague. E é claro que esta alegria que vi nos olhos do Senhor Pedro incomoda muita gente, muita gente mesmo!
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