Vamos por partes, por Percival Maricato

O Nordeste (*Não) se curva



O Senador Agripino Maia, do DEM  e do Rio Grande do Norte, deu inteiro apoio ao Estado de São Paulo quanto ao resultado da eleição. São Paulo votou certo, é a locomotiva da nação e etc. Para ser coerente, devia propugnar para que seu Estado deixasse de votar. Mas então, como seria eleito? Para a esquerda do sudeste, o problema do Nordeste ainda são suas oligarquias. Para a elite, são os nordestinos. O senador se inclui em ambas.
Incoerência
A oposição a Dilma diz que ela gastou a maior parte do tempo desconstruindo adversários. Pode até ter sido agressiva, mas certamente não ditou os temas dos debates. Pesquisa indica que 18% do tempo foi sobre corrupção e 11% sobre inflação, vindo depois, com menos de 5%, educação, saúde e etc. Por sua vez, certas mídias que mais acusam a presidente, tentaram o tempo todo desconstruí-la ou ao PT.  Basta ver a capa das revistas semanais, exceto Carta Capital. Certamente não foi a presidente que provocou debates sobre corrupção e inflação.
Cinco  à direita?
Quem via uma única força à  direita do espectro político, monolítica, já percebeu que há pelo menos cinco: a social democrática (Aécio, Chico Graziano, Jose Anibal, Aluizio Nunes), que repeliu veemente os apelos doidivanos e masoquistas pela volta da ditadura e militar, a direita mais afinada com teses do liberalismo, os toscos, que fizeram os apelos pela ditadura, os oligárquicos, morrendo aos poucos no DEM, e os fisiológicos, talvez os mais perigosos nos próximos meses. Sinal de que teremos maior riqueza de posições nos tempos que se seguirão, no campo da oposição. Os fisiológicos podem ser comprados, mas custarão caro.
Conveniências
De vez em quando aparecem teses oportunistas de reforma de leis. A do fim da reeleição, antes de Dilma ser eleita, só não repercutiu mais porque Lula ocuparia seu lugar e seria eleito. Mas quem a defendeu foi exatamente quem despendeu recursos vultosos para a impor na época de FHC. Também oportunista a PEC da Bengala, destinada a manter juízes conservadores no STF, na medida em que estende a aposentadoria de 70 para 75 anos. Se aprovada e amanhã a oposição eleger o presidente, certamente exigirão sua revogação.
Deselegância
Gilmar Mendes soube ser deselegante com seus colegas do STF, substituindo o truculento Joaquim Barbosa. Ao dar entrevista e dizer do risco do PT nomear novos magistrados e assim transformar a Corte em “bolivariana”, sabia muito bem que já atingia os que já foram nomeados, muitos deles com muito mais renome como juristas e magistrados. A tática parecer ser acuar esses juízes, de tal forma que fiquem constrangidos em votar causas que se identifiquem com interesses defendidos pelo PT ou pelo menos evitar que a presidente indique novos ministros. Logo em seguida a Revista Veja publicou que o PMDB está exigindo o direito de indicar o próximo. Se os peemedebistas não sabiam, ficaram sabendo.
Políticos
O líder do PMDB, Eduardo Cunha é o preferido por muitos deputados e partidos para presidente da Câmara, pois é o que melhor força o atendimento de seus pedidos paroquiais. Têm ameaçado até líderes de seu partido e quanto ao governo federal, diz ter uma pauta bomba, cujo objetivo seria fazer o governo gastar tanto com projetos populistas (que beneficiam os funcionários públicos, por exemplo), que inviabilizaria os demais projetos da presidência. Recentemente saiu-se com esta pérola: “somos da base de apoio ao governo, mas atuamos de forma independente”.
Reforma política ou politização da população?
Certamente a maioria dos votos cariocas de Eduardo Cunha,  ajudaram a eleger a presidente Dilma. A população não vê diferenças tão sutis. Apenas uma reforma política poderia dar mais clareza e definição às eleições.
PT em baixa?
Nas eleições em São Paulo  o PT  perdeu cinco deputados federais (foi de 15 para 10),  dez estaduais (foi de 24 para 14) e um senador (de 48% dos votos para 32%), perdeu votos para governador (de 35% para 18%) e presidente (de 37% para 28%). Estão errados os eleitores? O PT? Ambos? Ninguém?. Só não fará correção de rumos se seus dirigentes não a acharem conveniente. Por mais ortodoxos que sejam, não é possível que não entendam o recado e achem que o resultado é apenas influência da mídia ou algum outro fator insondável. A mídia sempre foi a mesma. Outra eleição dessas e o partido vira nanico, pelo menos no Estado.
Bancada empresarial-evangélica-ruralista


Também merece profunda reflexão a eleição para a Câmara Federal: 280 deputados de origem  empresarial, 80 evangélicos, 20 policiais (“bancada da bala”), 70 ruralistas. De outro lado, sobraram 43 sindicalistas, estes os que mais perderam. Também seria o caso de que refletissem, pois muitos dos líderes sindicalistas se caracterizam por visível corporativismo. Alguns propõem projetos que interessam às suas bases em determinadas profissões, propondo que trabalhem apenas algumas horas do dia e recebam um piso salarial avantajado. As demais categorias são levadas a pensar que melhor que fazer política sindical, lutar para que a renda aumente para todos ou mesmo em projetos para o país, é eleger um deputado protetor.

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