Dilma Rousseff venceu um candidato do PSDB e uma do PSB na campanha presidencial, mas é com o apoio dos dois partidos que o PT espera impedir um cenário tido entre alguns ministros como indesejado na eleição para o comando da Câmara dos Deputados no domingo 1. Ingenuamente ou não, petistas acreditam que o perfil do candidato favorito, o líder do PMDB, Eduardo Cunha, pesará mais no voto de tucanos e pessebistas do que a vontade de prejudicar o governo. E que isso ajudará derrotar o “aliado”.
Acham mais: que a falta de água em São Paulo criará tanto embaraço ao governador Geraldo Alckmin, um dos presidenciáveis do PSDB para a eleição de 2018, que não interessaria ao partido acrescentar ao ambiente político do País um elemento de alto potencial desestabilizador, como seria a vitória de Cunha. Alckmin tinha, aliás, uma reunião marcada com Dilma nesta sexta-feira 30, a só dois dias da eleição na Câmara, para discutir a crise hídrica paulista.
Cunha é um parlamentar capaz de bagunçar a República com seu currículo, seu estilo ousado e seus planos, razão pela qual discretamente ministros de Dilma Rousseff trabalham contra ele. É provável que seja alvo de um processo de investigação por parte do Ministério Público Federal graças a indícios surgidos na Operação Lava Jato. Um integrante do governo com acesso parcial ao que já foi apurado pela Operação garante: Cunha está implicado. E ficará mais se Fernando Baiano, recolhedor e entregador de dinheiro sujo no PMDB, topar uma delação premiada.
O líder pode não ter qualquer envolvimento, como ele sustenta, mas é o preferido de deputados que temem ser cassados por vínculos com doleiros e trapaças identificados na Lava Jato. História contada por uma parlamentar que diz que votará no peemedebista: Cunha já foi procurado por colegas que andam com medo de cassação e ouviu um pedido de apoio para ajudá-los a se salvar, caso chegue a presidente da Câmara. A resposta teria sido positiva.
O candidato da dupla PSDB-PSB, Julio Delgado, pessebista de Minas, representa o oposto. Delgado foi o relator do processo no Conselho de Ética contra André Vargas, ex-petista cassado em dezembro por ligações com o doleiro Alberto Youssef. Seu parecer foi implacável. Não é de se esperar que, à frente da Câmara, resolva se tornar flexível.
Delgado entrou na disputa estimulado pelo senador mineiro Aécio Neves, de quem é amigo. Seu marqueteiro na empreitada é um velho colaborador de Aécio, Paulo Vasconcelos. A candidatura tinha o objetivo de manter a aliança entre PSDB e PSB firmada na eleição presidencial, evitando que setores pessebistas pudessem trabalhar por uma reaproximação com o governo petista.
Ele não tem, porém, chances reais de vitória. Conta com poucos partidos a seu lado. O nome com alguma condição de bater Cunha é o de Arlindo Chinglia, do PT. Em caso de segundo turno entre Cunha e Chinaglia, a dobradinha PSB-PSDB teria de optar entre um e outro. É aí que reside a esperança petista. Mesmo com voto secreto, seria possível ter alguma noção sobre o destino, no segundo turno, dos votos dados a Delgado no primeiro.
Um deputado do PT que faz campanha por Chinaglia e diz ter conversado com setores do PSDB nos últimos dias ficou animado com um movimento atribuído pela imprensa à cúpula tucana. Aécio, Alckmin, Fernando Henrique e José Serra teriam barrado a tentativa de deputados do partido de trocar Delgado por Cunha já. Segundo um parlamentar eleitor de Cunha, não importa a ação da cúpula tucana. O peemedebista está certo de que terá a maioria dos votos do PSDB.
“Eduardo Cunha é um problema para todo mundo, não só para o governo”, diz o deputado petista. “A oposição sabe qual é o estilo dele. Na presidência da Câmara, ele será uma aventura que pode terminar como o Severino Cavalcanti”. Severino elegeu-se presidente da Casa contra o governo e com o apoio da oposição em 2005 e durou apenas sete meses no cargo. Saiu sob acusação de receber “mensalinho” para permitir o funcionamento de restaurantes.
Mesmo na seara peemedebista, não há dúvidas de que Cunha vai criar problemas. Uma vez na Presidência da Câmara, terceiro posto mais importante da República, seus planos incluem aumentar seus tentáculos no Estado brasileiro, tomar o controle do PMDB e implodir a aliança federal do partido com o PT.
Cunha estará mais forte também para praticar um de seus hobbies, defender interesses privados contrariados. Um exemplo recente. No ano passado, assumiu a relatoria de uma medida provisória destinada a resolver um antigo impasse sobre a tributação de lucros empresas no exterior. Mudou algumas das regras propostas pelo governo. Dilatou de cinco para oito anos o prazo de pagamento de impostos atrasados e cortou pela metade o valor da parcela inicial. O Tesouro Nacional arrecadaria menos do que poderia. Mas as empresas economizariam um bom dinheiro - e bem às vésperas das eleições. Consta que ficaram tão felizes, que separaram alguns milhões para financiar a campanha de indicados por Cunha. Fala-se em algo como 400 milhões de reais.
por André Barrocal
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