Desde Célio Borja em 1975, um representante do Rio de Janeiro não se elege presidente da Câmara dos Deputados. O tabu de 40 anos pode ser quebrado no domingo com a vitória de Eduardo Cunha. Que legal, não?
Resposta de quem acompanha um pouquinho a política do Rio, dominada há 12 anos pelo partido-empresa de Cunha, o PMDB: não.
O resultado poderá coroar aberrações que passaram a ser aceitas como verdades. Exemplos:
1) ser político é um ofício da iniciativa privada, tão bem-sucedido quanto maior for a ingerência sobre o destino de recursos públicos –que deixam de ter destino público;
2) a função primeira do Legislativo é chantagear o Executivo para conseguir o máximo de cargos e verbas. É um jogo que zera após cada votação importante, o que o torna interminável e de rentabilidade segura. Não se discutem projetos para o país, mas oportunidades de negócio;
3) em sendo uma categoria profissional, os políticos precisam ser representados por associações de classe, que organizam suas reivindicações. Eduardo Cunha é um líder sindical, um Lech Walesa do submundo político brasileiro.
Em fevereiro de 2005, Severino Cavalcanti foi eleito pela maioria fisiológica da Câmara, desafiando o governo Lula. Em maio, anunciou seu preço: indicar um nome para “aquela diretoria que fura poço e acha petróleo” na então forte Petrobras. Caiu em setembro acusado de receber um mensalinho de R$ 10 mil do concessionário do restaurante da Câmara.
Saudades de Severino. Era um amador, praticante do fisiologismo-arte. Cunha joga o fisiologismo-força.
Firme em sua milionária campanha, indica se sentir inalcançável pela Operação Lava Jato. O juiz Sergio Moro vai ficar devendo essa ao Brasil.
Se vencer, Eduardo Cunha entrará nos anais do Rio. E de todos os brasileiros
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