Condeno o deboche, a falta de respeito do Charlie com os valores dos outros.
Condeno a violência, a falta de respeito dos terroristas com a vida dele e dos outros também
Condeno a intolerância de ambos, Joel Neto
Somos ou não somos Charlie
por Rosana Pinheiro - Machado
Somos ou não somos Charlie?
O passado
- Qual o limite do humor? Qual a fronteira do risível?
Quem pode rir de quem é uma das fronteiras mais difíceis de definir. No Brasil, Danilo Gentilli e Rafinha Bastos são exemplos de que não se pode falar tudo o que pensa. Mas falam em nome da liberdade de expressão, esquecendo que a liberdade acaba quando fere o outro. As charges do Charlie eram, muitas vezes, sofisticadas, mas não se diferenciam da escória do humor que retrata uma ministra negra como macaca. Diversas outras charges possuíam conteúdo extremamente religioso extremamente ofensivo.
Quem pode rir de quem é uma das fronteiras mais difíceis de definir. No Brasil, Danilo Gentilli e Rafinha Bastos são exemplos de que não se pode falar tudo o que pensa. Mas falam em nome da liberdade de expressão, esquecendo que a liberdade acaba quando fere o outro. As charges do Charlie eram, muitas vezes, sofisticadas, mas não se diferenciam da escória do humor que retrata uma ministra negra como macaca. Diversas outras charges possuíam conteúdo extremamente religioso extremamente ofensivo.
À direita ou à esquerda, as fronteiras do risível precisam manter a ética. E o mundo não se torna menos engraçado quando entendemos isso. Ele apenas se torna profundamente melhor. Eu particularmente tenho horror a todo e qualquer veículo que, em nome da liberdade de expressão, acha que pode rir de todos e de tudo como um ato de soberba. Eu sempre tendo a achar essas ações pouco tolerantes e muito arrogantes. Apesar de o Charlie ter uma história admirável, essa postura soberana teria consequências.
Como já teve no passado. Não se debocha da crença dos outros. Nunca sabemos a extensão dessas consequências, especialmente através do humor que pode causar tanto sofrimento quanto riso por ser um discurso fluido. Nunca sabemos até onde ferimos com nosso humor e qual a extensão das consequências desses atos. Neste caso, mexer com fogo ou colocar o dedo no abelheiro trouxe um custo muito alto. Muito trágico.
O presente
Nada justifica, no entanto, esta violência. Eu repudio profundamente este ato de horror e me solidarizo com as vítimas e com suas famílias. Mentes brilhantes e vidas interrompidas brutalmente. Incompreensível.
Se o humor feriu, matar é um ato desproporcional (mas quem mede a proporcionalidade, não é?).
Como disse recentemente, acho que a reação da esquerda e de intelectuais brasileiros é de “Je suis Charlie”, ao passo que uma grande parte de integrantes dos movimentos sociais já começa a dizer “je ne suis pas”. Eu acho esse evento ilustrador de como às vezes somos levianos em nossas análises. Se fosse um atentado ao Estados Unidos ou a um jornal de extrema direita, os críticos que tanto se orgulham de sua tradição francesa estariam exclusivamente comentando que se trata de uma reação às políticas intolerantes, racistas e xenofóbicas. Mas não, neste episódio há muito mais solidariedade às vítimas, porque há identificação com as mesmas. Eu ainda sou da turma que todas as vidas - do World Trade Center, passando pelos anônimos que morrem diariamente nas periferias do mundo e chegando à revista francesa – são igualmente valiosas. E este episódio nos faz ter um pouco mais de alteridade em relação à vítimas.
O futuro.
Infelizmente já sabemos. Guerra “ao terror” - que já começou. Islamfobia. Xenofobia. Fechamento do cerco contra imigrantes. Reação da direita conservadora e fascista da Europa. Perseguição de inocentes.
Uma lástima.
Geertz certeiro: “Compreender aquilo que é, e continuará sendo, de alguma forma, diferente para nós, é uma habilidade que teremos que apreender a duras penas. E, uma vez apreendida, imperfeitamente como sempre, temos que trabalhar incessantemente para mantê-la vida”.
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