O artigo de Ricardo Noblat sobre Lula merece figurar entre as piores coisas já publicadas pela imprensa brasileira.
Nas escolas de jornalismo, os professores poderiam usá-lo como uma amostra do que não se deve fazer.
Os problemas começam numa fonte – melhor, "fonte" – que conta uma história, ou pseudo-história, na qual Dilma aparece como um monstro.
Dilma, segundo essa "fonte", teria mandado alguém calar a boca mediante o argumento de que ela tem 50 milhões de votos.
Sei o quanto jornalistas fabricam fontes, e estamos diante de uma situação em que Wellington diria que quem acredita em Noblat acredita em tudo.
Pessoas do círculo íntimo de Dilma não contam histórias para jornalistas como Noblat, porque sabem o uso que será dado a elas.
Minha aposta, editor, é que Noblat criou uma fonte. A única alternativa que vejo é alguém ter contado a ele uma lorota para atacar, por ele, Dilma.
Mas isso não é o pior.
O que mais chama a atenção no texto é Noblat tratar Lula como "ameaça à democracia".
Deus, onde foi parar o pudor?
Noblat trabalha para uma empresa que tem um histórico terrível de conspirações contra a democracia.
Roberto Marinho tramou contra Getúlio. Foi peça vital na derrubada de João Goulart. Beneficiou-se extraordinariamente da ditadura, da qual foi porta-voz.
Era, antes dos generais, o dono de um jornal de segunda classe, o Globo. Ninguém admirava o Globo na era do Correio da Manhã e do Jornal do Brasil. Ninguém lia. Ninguém levava a sério.
Com a ditadura, Roberto Marinho, já sexagenário, recebeu de presente uma televisão e todas as mamatas possíveis para fazê-la crescer.
O pacto era assim: Roberto Marinho teria o que quisesse da ditadura, desde que desse a ela uma cobertura totalmente amiga.
Você vê como a Globo trata Lula e Dilma. Na ditadura, era exatamente o tratamento oposto. O Brasil era uma maravilha segundo a Globo.
Não vou nem colocar aqui a conta dos brasileiros mortos, torturados e perseguidos pela ditadura. E nem vou dizer que Roberto Marinho e a Globo jamais pagaram essa conta.
Também não vou falar dos privilégios dados à Globo com recursos públicos: publicidade em níveis abjetos, financiamentos de bancos estatais, compras de livros e de assinaturas de jornais e revistas, reserva de mercado etc.
Quer dizer: com todo esse histórico, Noblat tem coragem, em plena Globo, de falar em "ameaça à democracia".
Lula foi um cavalheiro com a Globo, e este foi um de seus maiores erros.
Boni, publicamente, se gabou trabalho que a Globo fez com Collor no debate que decidiu a presidência em 1988.
Todos sabem, depois, a edição do debate, e sua influência na vitória de Collor.
E o que Lula fez quando se tornou presidente? Compareceu, respeitoso, ao enterro de Roberto Marinho. Não compareceu apenas. Fez um elogio fúnebre a ele e decretou luto de três dias.
E mais importante que tudo para a Globo: manteve o mensalão milionário da publicidade federal.
Tudo isso para dar na perseguição impiedosa que a Globo moveu contra Lula e agora move contra Dilma.
Isso sim é ameaça à democracia – Lula antes e Dilma agora foram erguidos à base de voto popular.
Não espero nada da Globo e de seus capangas-jornalistas.
Mas Noblat se superou.
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