Por base de apoio, entenda-se PMDB.
Hoje em dia a base está esfacelada desde que Dilma Rousseff rompeu a aliança com o partido, e promoveu uma disputa radical pelo controle das ações públicas.
Rebelado, o PMDB está ocupando todos os vácuos deixados pela Presidência. E são muitos.
Em 2013, as manifestações de junho e a redução do ritmo de crescimento da economia deflagraram um apagão geral no governo, com Dilma concentrando-se exclusivamente no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e nas políticas macroeconômicas visando conter a ferro e fogo o esfriamento da economia.
Abandonando as demais áreas, criou um enorme vazio em várias delas, como na regulamentação de projetos de interesse setorial, decisões envolvendo o Judiciário (como nomeação de juízes), não indicação de conselheiros de agências reguladoras, abandono de órgãos públicos, como a Polícia Federal.
Esse espaço está sendo disputado pelo PMDB, com o notório presidente da Câmara, Eduardo Cunha, mostrando uma competência invejável para identificar vazios. Se o governo tivesse metade da competência e no máximo 1% da ficha suja de Eduardo Cunha, não haveria crise de governabilidade.
PSDB não conta. É apenas um agente oportunista aguardando o desfecho dessa disputa, e tendo cada vez mais a cara do Aloyzio Nunes e do Lobão.
Serra e Cunha: larga que o petróleo é meu
Com esse vácuo de poder, os grandes lobbies ficaram assanhadíssimos, abandonando o Executivo e centrando fogo total no Congresso.
Está sendo curiosíssima a disputa entre Eduardo Cunha e José Serra para saber quem atende primeiro às demandas das multinacionais do petróleo. Quando Cunha se apresentou, Serra saiu correndo, temeroso de perder o pioneirismo no fim do modelo do pré-sal. Quem atender primeiro, será o primeiro a ver jorrar o petróleo da Chevron.
Ou Dilma elimina essa disputa com o PMDB, ou chegará se arrastando ao final do governo. E elimina se impondo ou negociando. Quem pode, manda; quem não pode, negocia.
A relação Executivo - Congresso
No presidencialismo de coalizão brasileiro, há dois fatores que cimentam alianças políticas entre Executivo e Congresso:
1. O exercício do poder pela Presidência.
2. Cargos.
O exercício do Poder escuda-se em duas características: a popularidade da Presidência (sua capacidade de transferir votos e popularidade para os partidos aliados) e seu Poder (sua capacidade de premiar ou retaliar).
Quanto maior a popularidade e o exercício de poder, menor a demanda por cargos. E vice-versa. Enquanto foi popular, Dilma pode tratar o Congresso com pouco cuidado.
Com a popularidade em queda livre, o jogo é outro.
A popularidade de um governante depende das seguintes variáveis: bem estar econômico, visão de futuro e carisma.
O bem estar garante o imediato. A visão de futuro ajuda a minimizar problemas do presente. E o carisma garante a identidade com o eleitor, na abundância ou na miséria.
Dilma está a pé nas três frentes.
Economia – A crise mal começou. Nos próximos meses o desemprego se aprofundará por conta dos ajustes e da crise da Lava Jato. Com essa frente perdida, no médio prazo, haverá necessidade de enorme reforço nos dois fatores seguintes até se completar a travessia.
Visão de futuro – até agora Dilma não juntou seu Ministério para apresentar um plano integrado que crie a aguardada agenda positiva, essencial para conter ansiedades até passar a tormenta. Deveria dar prioridade a isso. É mais importante do que perder tempo em inaugurações regionais.
Carisma, identidade com o eleitor – dependerá de um trabalho árduo, focado muito mais em políticas inovadoras, centradas em bons modelos de comunicação, do que na inauguração de cisternas. E haja imaginação, interlocução e sinceridade para compensar o baque que foi o lançamento do pacote fiscal a seco. O caminho seria abrir efetivamente a gestão para a participação geral – de empresários a movimentos sociais.
O poder da Presidência
Por todos esses fatores, o poder da Presidência é minguante. Tem sido seguidamente derrotada no Congresso e usou de forma incorreta seu poder de nomear Ministros. Não dispõe de poder de mobilização a favor.
Há a necessidade de uma estratégia para permitir atravessar o deserto de 2015.
O PMDB não é um partido homogêneo. É uma confederação de forças que historicamente lideradas por um grupo de velhas raposas, representadas por Renan Calheiros, Michel Temer, José Sarney, entre outros.
Nos últimos anos irrompeu Eduardo Cunha, com a força de um furacão.
Há um evidente desconforto nas demais lideranças pela maneira como Cunha está ocupando espaço, como bem revelado por Jânio de Freitas recentemente. É por aí que o governo Dilma terá que montar sua estratégia, que consiste não em se fortalecer perante o PMDB, mas em fortalecer os aliados potenciais, dentro do PMDB.
A aposta no enfraquecimento de Renan Calheiros, com a Lava Jato, foi um tiro no pé. Se tiver que cair, que caia, mas sem torcida do Planalto.
Essas velhas raposas – infelizmente - são a garantia da estabilidade política, ainda que à custa de passar por cima de escrúpulos. É por aí que se remonta a governabilidade, o barco que permita atravessar as tempestades de 2015.
Há dois tipos de políticos manipuladores: as raposas espertas, representadas por Renan, Calheiros e Temer; e o novo estilo, representado por Eduardo Cunha, que significa inclusive um rompimento com o establishment político e legal. Ele representa a parte lobo da política.
Sem realismo político, não se superará uma ameaça muito mais concreta, do que o deplorável estilo atual do presidencialismo de coalizão.
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