O deputado Eduardo Cunha conseguiu que seus amigos na imprensa lhe prestassem o favor de classificar como "chorões" aqueles deputados que foram ao Supremo denunciar a manobra que permitiu a segunda votação sobre a PEC de financiamento privado de campanhas eleitorais.
Basta comparar as duas emendas — a de número 22 e a de número 28 — para se constatar que houve um crime contra a constituição. Em seu artigo 60, parágrafo 5, ela impede que uma matéria rejeitada uma vez seja apreciada uma segunda vez na mesma legislatura. Não há o que discutir a esse respeito. O artigo 60 diz textualmente que " A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa."
Pois foi exatamente isso o que aconteceu, como você pode perceber comparando as duas emendas, cujo link está aqui:
Leia aqui a emenda reprovada na terça-feira: (http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1341640&filename=EMA+22/2015+%3D%3E+PEC+182/2007).
Leia agora a emenda aprovada no dia seguinte:
(http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1341630&filename=EMA+28/2015+%3D%3E+PEC+182/2007).
O emprego de termos depreciativos, como "chorão,"sempre foi uma forma de desqualificar adversários para evitar uma discussão difícil ou mesmo constrangedora. Seu uso, agora, destina-se a encobrir a natureza inaceitável da segunda votação.
Também pretende transformar em banalidade sentimental ("chorão") uma decisão que tem importância crucial na manutenção do domínio de poder econômico sobre o regime democrático. A ousadia de violar a constituição — iniciativa sempre arriscada do ponto de vista político e jurídico — garantir a aprovação da emenda
Na década de 1990, quando Fernando Henrique Cardoso emplacou o programa de privatizações, os adversários eram chamados de "dinossauros". Quem se opunha a um programa econômico de pensamento único era classificado como "nostálgico do Muro de Berlim".
Na mesma linha, tentou-se amenizar a violência da tortura pelo eufemismo " maus tratos" e a realidade de um regime que era uma ditadura era encoberta pela expressão " regime autoritário."
Em nossos dias, emprega-se o termo " lulismo" e "lulo-petismo" como um esforço para reduzir uma luta política de 35 anos, vitoriosa em tantos aspectos, a simples expressão de um movimento de natureza personalista, sem horizonte político ou base social real.
Na realidade, o termo não passa de uma tentativa de apresentar o mais importante movimento político de nossa história recente como uma nova versão do "populismo". Esta expressão, sabemos todos, saiu da ciência política norte-americana para ser usada como depreciativo pelas elites dirigentes interessadas se referir a Vargas, Goulart e Brizola durante a campanha ideológica que ajudou a preparar e mais tarde justificar o golpe de 64.
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