Autor: Fernando Brito

No seu primeiro governo, sempre enfrentando a lupa da imprensa à procura de qualquer coisa que pudesse ser apontada como desonesta, Leonel Brizola viu-se às voltas com um empréstimo feito pelo Banerj ao empresário de loteamentos Fuad Zacarias, ao que parece concedido sem garantias adequadas.
Brizola reuniu os diretores do banco, ouviu suas explicações e, ao final, deu seu veredito:
"Olha, este empréstimo não poderia ter sido feito deste jeito, mas já que foi, agora vocês vão ficar em cima deste turco, vão controlar este turco, fazer ele pagar tudo e resolver o problema. De agora em diante, o turco é nosso".
Lembrei-me do episódio, hoje, ao ler no Estadão que "a Petrobrás estuda reduzir ainda mais o número de encomendas à Sete Brasil, empresa responsável pela construção de 19 sondas destinadas ao pré-sal. Com a necessidade de preservar o caixa, a estatal dá sinais de que poderá buscar no mercado internacional as unidades para negociar preços mais atrativos.
A diretoria da estatal também sinalizou que há "problema estrutural" nos contratos entre a Sete e os estaleiros, que poderiam atrasar as entregas."
Não posso opinar nos detalhes contratuais do negócio da Petrobras com a Sete Brasil, que envolvem detalhes técnico financeiros que não são para ser analisados – como parece ter virado moda no Brasil – em cima da perna, é obvio.
Mas também é obvio que jamais pode ser mau negócio para o Brasil construir sondas de águas profundas (capazes de operar em lâminas d'água superiores a 1.300 metros) cujo valor chega à casa dos US$ 700 milhões cada e que, alugadas como são no mercado internacional custam a bagatela de US$ 50o mil dólares por dia.
Construir estes equipamentos no Brasil, embora deva seguir a lógica da economicidade, não é exclusivamente econômica, é estratégica.
A situação da SeteBrasil abalada pela ladroagem de Pedro Barusco, pode não ser a mais tranquilizadora, mas "o turco é nosso".
A Petrobras deve encontrar um arranjo aceitável para a conclusão dos contratos, de uma maneira tecnicamente racional, jogando com prazos de arrendamento, partilha de operação das sondas prontas, o que for necessário para que o país não exporte milhares de empregos e o renascimento de sua indústria naval para o Oriente.
Administrar a Petrobras de forma meramente "técnica" – o que é necessário – não pode ser separado do que é indispensável: fazer dela uma alavanca do desenvolvimento industrial do Brasil.
Porque, para ser igual a qualquer outra empresa, não precisaria ser nossa.
e É.
Nenhum comentário:
Postar um comentário