Da responsabilidade das elites, por Eduardo Ramos

Todos os países que hoje conhecemos, não são o que são "por acaso", ou por um "DNA", uma genética "superior" ou "inferior" de seus habitantes. Esse raciocínio é dos mais pobres, preconceituosos e elitistas que alguém pode conceber.

O que cada país é hoje, é um fruto direto de suas ações ao longo dos séculos, alguns, de apenas algumas décadas, e tanto temos exemplos de países ricos em crise, com aumento avassalador da pobreza de parte de seus cidadãos, como o oposto, países pobres que hoje praticamente eliminaram essa chaga, nações onde predomina uma classe média forte e que vive dignamente.

É na História que aprendemos as lições que essas nações nos passam, e é ingênuo acreditar que em algum momento, algum lugar, "o povo" teve o papel crucial, enquanto agente político, para as mudanças levadas a efeito, para pior, para melhor.

Longe de mim desprezar esse fator, a participação popular, mas me parece um fato histórico COMPROVADO, que todos os países que passaram ou passam por períodos de prosperidade e paz social, atingiram esse objetivo porque SUAS ELITES, MAIS QUE QUALQUER OUTRA PARCELA DE SUAS SOCIEDADES, estavam abertas a políticas, decisões de governo, que abraçassem as necessidades de todos, promovessem oportunidades realmente justas aos seus cidadãos, e um ambiente onde a justiça e a democracia fossem mais próximas da seriedade. São sempre poucos, os líderes das nações, líderes econômicos, midiáticos, políticos, as multidões, os povos, as massas, INSEREM-SE nesses projetos, conscientemente quando sua Educação permite isso, ou são "tangidos", como gado humano mesmo, muitos acreditando inclusive que isso é "destino", "as coisas são assim", e outras crenças profundamente arraigadas, que tiram do homem o poder de mudar a sua vida.

Quando a vontade política e ética das elites diversas de um país é solidária, e não exclusivista ou amesquinhada, investe-se pesado em Educação, e em todo o caminho que possibilite ao cidadão ascender socialmente. Essa breve reflexão, para concordar com a professora Maria Aparecida de Aquino, da USP: O Brasil não é o que é "porque somos vagabundos", "por culpa do Nordeste", "porque somos uma raça inferior", "por culpa do PT (sic....)" - mas, EXCLUSIVAMENTE porque desde a fundação desse país chamado Brasil, as formas racionais, educativas, evolutivas do homem, democráticas, justas, solidárias, FORAM SISTEMATICAMENTE NEGADAS a um contingente imenso de miseráveis, negadas por uma elite medíocre, preconceituosa, apegada ao seus status como o cão ao osso preferido, arrogante, e com absoluto desprezo "pelos seres inferiores", vide a forma quase escrava com que dezenas e dezenas de milhões de trabalhadores têm sido tratados por essa elite ao longo dos séculos. E isso não é "papo de comunista", é fato histórico, é fato social. Temos sido a nação onde dez, vinte milhões de brasileiros ricos e de classe média alta, são sustentados pelo trabalho explorado, do restante, a quem é sonegada educação , saúde, dignidade de vida, oportunidades de ascensão, de transformação da própria existência.

Um exemplo do menosprezo social da elite em relação ao "resto"? A comoção que há, quando alguém "socialmente importante" é vítima de bandidos em assaltos seguidos de morte. E a indiferença absoluta, com os vinte, trinta mil pobres de periferias, mortos por policiais todos os anos, é como se não existissem, não despertam o menor interesse, a menor revolta, justamente pelo "valor humano" que lhes é dado, em nosso sentimento cauterizado, perverso: NENHUM! Isso explica muito do ódio e do nojo em relação a Lula, principalmente, e à Dilma, ao PT.

Incomoda as pessoas, as assusta, uma mudança de paradigma, um paradigma secular, que nos acompanha desde sempre: que rico é rico, classe média é classe média, pobre é pobre, "cada qual em seu lugar...." - nos "ensina" o senso comum vigente nas mentes e corações da maior parte dos brasileiros das elites e classes médias. É risível, quando se fala em "luta de classes" no Brasil. Nunca houve, de fato, uma "luta", sejamos honestos, sejamos lúcidos, houve sempre um MASSACRE de uma classe sobre a outra. Como trata a polícia, ao rico e ao pobre? Como tratam as pessoa, em seu dia a dia, na sociedade, ao rico, ao pobre? Como tratam promotores, juízes, delegados, ao rico, ao pobre? Como são as oportunidades REAIS de vida digna, do filho do rico e do filho do pobre...?

No dia em que nossa elite e classe média deixarem a miséria mental e emocional de lado, crescerem, evoluírem, tornarem-se solidários, perceberem que diante da VIDA, todos temos valor, e quiserem aceitar como normal, a inserção social, o progresso, de pretos, pobres, nordestinos, todos, todos, então não haverá mais espaço para uma rede Globo, uma Veja, políticos como Aécio Neves, ministros do Supremo como Gilmar Mendes, porque serão motivo de repulsa, não terão espaço para "existir" como agentes políticos em nosso país. Mas na sordidez mental da sociedade atual, a "culpa" é do "pobre", que recebe o bolsa família, a "culpa" é do nordestino, esse "incapaz por nascença", a "culpa é dos petralhas", esses ladrões comunistas, que criaram a "luta de classes", tenhamos pois, medo e nojo dessa escória.....

O bom desses conflitos exacerbados que estamos passando na última década, é que as máscaras caem, as pessoas acabam obrigadas a refletir com honestidade intelectual, ou a se renderem à pequenez da ideologia dominante há séculos, o país é obrigado a "se ver no espelho", e a honestidade dessa visão, o que vamos fazer diante do que o espelho mostra, é decisão pessoal de cada um, sendo que a soma, a síntese dessa visão, e como ela se manifestará politicamente, determinará que país seremos no futuro. Não existem "acasos". Existem visões de vida, e decisões políticas. Que começam com a liderança de uma elite - intelectual, ou política, ou econômica, mas sempre há essa liderança - e um povo, que abraça a causa, ou vira gado tangido. É assim que as coisas sempre foram e ainda são.

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