Sou antiraças

Não Sou apenas antiracistas, sou antiraças Não reconheço a raça Vermelha Amarela Branca Preta Azul ou qualquer outra cor com que queiram def...

Emoções cruzadas, numa noite de agosto

por Rodrigo Vianna

Para colocar as coisas em perspectiva, ouço Cartola: "Alvorada", "Divina Dama", "Ensaboa"…
Esse é um Brasil lindo, que resiste há séculos.

Vamos lembrar: esse povo das panelas não gosta do Brasil. Gente cinzenta, infeliz e rancorosa – pendurada em suas tristes varandas.

Há motivos para protestar? Sempre há. Mas esse povo jamais protestou contra corrupção. Nunca. A não ser em 64, pra derrubar um governo constitucional. Ou em 54, pra levar Vargas ao suicídio.

"Você desconhece consciência/ só deseja o mal a quem bem te fez/ Basta, não ajoelhes, vai embora…"

O que move os tristes paneleiros é o rancor. Sim, essa gente está na ofensiva! Sim, essa gente pode ganhar a batalha. Mas nem por isso deixaremos de lutar, sonhar, sorrir e cantar.

Eles já ganharam outras vezes. E nós seguimos cantando. Estamos nessa, pra ganhar ou perder.

Lembro agora de todos meus amigos que gostam do Brasil.
Ouço Beth Carvalho, a sambista/brizolista, amiga de meu amigo Eduardo Goldenberg … "Por deus, não posso entender porque vamos chorando… O vento de quando em quando, num sussuro sereno, obriga toda a floresta a nos fazer aceno; é um festival de alegria que me põe a imaginar/ Não sei se devemos rir ou chorar."

Penso em José de Abreu, o ator que botou a cara na TV pra defender o PT. Era bonito fazê-lo quando ser petista era ser "bom selvagem", uma espécie exótica a adornar a cozinha da política. Zé de Abreu deu as caras quando a maioria dá as costas. O mundo em que vivo se faz de gente assim.

Sinto Darcy Ribeiro, tateio por entre Chico Buarque e Nelson Sargento. Farejo Aldir Blanc, o Tolstói brasileiro.
Sonho com os joelhos tortos (!) de Mané que jamais tremeu diante de europeus, com o calcanhar/pincel do Dr. Sócrates, com as arrancadas do gigante Romário – o baixinho que ganhou de cabeça dos grandões suecos em 1994, e agora botou a revista da marginal de joelhos. E me acalmo.

Amanhã, sexta-feira (7/agosto), alguns bravos irão para a porta do Instituto Lula. Reagir ao golpe paraguaio; defender não o governo manco de Dilma, mas a democracia que lutamos tanto pra construir. Na mesma hora, estarei na USP, defendendo minha dissertação de Mestrado, que traz (espero) reflexões sobre a democracia manca de um país vizinho: a Colômbia.

Torçam por mim, meus amigos.
Torço pelo Brasil.

Seguimos por aí, com Cartola, com as panelas cheias, com o coração quente.
Vamos cantar. E vamos ganhar.

Ganhando ou perdendo, vamos ganhar.
Já ganhamos!

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