Ex-dirigente do PSB diz que governo carrega ônus de erros do PT. Presidenta do PCdoB defende "luta de conteúdo" e alerta que golpe inviabilizaria agenda de esquerda. Tarso vê captura da política pela economia
Por Eduardo Maretti
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São Paulo – A atual crise política brasileira "não é exclusiva do PT e pode comprometer um projeto de esquerda para o Brasil". A luta poderá ser perdida pelo campo progressista se as forças populares não se unirem em torno da defesa do mandato de Dilma Rousseff. A opinião é da deputada federal Luciana Santos (PE), presidenta nacional do PCdoB. "Temos de ter a dimensão da batalha que estamos vivendo. Eles perderam eleição mas querem impor a agenda deles", disse.
A deputada participou de debate promovido pelo Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé e pelo Fórum 21, na noite de ontem (28). O evento fez parte do lançamento do livro A Serpente Sem Casca (Ed. Altadena), reunião de artigos do ex-presidente do PSB Roberto Amaral, presente ao debate.
Segundo Luciana, a atual luta política é "adversa" para a esquerda. "Temos de fazer a luta de conteúdo, defender imposto sobre grandes fortunas, a repatriação de remessas feitas ao exterior e outras bandeiras progressistas. Mas, para isso, precisamos fazer a defesa do governo Dilma. Do contrário, não haverá alternativa à esquerda. Se hoje não está bom, (se Dilma cair) ficará pior", disse.
A deputada afirmou que o momento não é de "críticas e diferenças" entre membros das esquerda, incluindo Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT). "São atores importantes. Ciro foi solidário a Lula no primeiro mandato, no auge das denúncias de corrupção em 2005. É contra o golpe e contra o impeachment. Marina tem tido uma posição firme contra o impeachment."
Para a parlamentar, o "defeito" da esquerda em 12 anos de governo – desde o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006) – foi não ter feito "nenhuma reforma estruturante". Ela mencionou as reformas política, tributária e dos meios de comunicação como as que faltaram no período, apesar dos avanços sociais e de setores estratégicos como o da indústria naval. Na economia, "o país anda é dependente das commodities e não inovou tecnologicamente".
Segundo ela, o descuido com a politização da população durante os governos recentes da esquerda faz com que as pessoas sequer atribuam a evolução social e sua entrada no mercado de consumo às políticas públicas. "Pesquisas mostram que as pessoas atribuem suas conquistas a si mesmas."
Repetição da história
Roberto Amaral disse que os ataques da direita contra o governo Dilma, com o apoio ostensivo dos meios de comunicação, repete historicamente o que aconteceu em 1954 (com o suicídio de Getúlio Vargas) e 1964 (com o golpe militar). Segundo ele, o objetivo dos grupos de direita hoje, no Brasil, assim como naqueles momentos da história, está além da atual chefe do Executivo.
"Dizem que o objetivo é derrotar a Dilma. Não creiam nisso. O grande alvo é a esquerda (como um todo), não só a esquerda partidária", afirmou Amaral. "Há companheiros que dizem que é impossível defender o governo Dilma, mas com todos os seus defeitos é o nosso governo. Culpa-se a Dilma, mas não se diz que Dilma carrega consigo os erros do PT".
Amaral afirmou que a grande diferença entre 1954 e 1964 e a crise atual é que "hoje, os militares estão calados". "Mas em 1964 o cantochão era o mesmo. Vemos de novo os liberais, de novo a classe média, de novo a unanimidade dos jornais." O dirigente lembrou que em 1954 os setores golpistas usaram contra Vargas o mesmo argumento de combate à corrupção, que na época era chamado pela imprensa de "mar de lama".
Segundo Amaral, o "mar de lama" não existia, e os ataques tinham relação com a mesma Petrobras que hoje é o centro da crise política com a operação Lava jato. A Petrobras foi fundada em 3 de outubro de 1953, menos de um ano antes do suicídio de Vargas.
A deputada do PCdoB chamou a atenção para as dificuldades que serão impostas à esquerda se as forças conservadoras lograrem êxito na tentativa de golpe. "Foram 21 anos de período ditatorial (de 1964 a 1985) e, com toda a nossa luta, qual foi o desfecho e onde a ditadura foi derrotada? No Colégio Eleitoral. Isso é para mostrar como a luta é complexa."
O ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), presente ao debate, disse que o Brasil vive um fenômeno grave e global, que ele chama de "uma captura da política pela economia financeira".
Para Tarso, o capital financeiro "captura" também o Estado, o que seria demonstrado pelas decisões do Judiciário. O petista afirmou que o sistema financeiro é representado pelos bancos centrais. "No caso da Europa, o Banco Central europeu, leia-se BC alemão. No caso do Brasil, o Banco Central."
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