A saída de Joaquim Levy do ministério da Fazenda encerra uma semana extraordinária para o governo e para os rumos que o país pode e deve tomar daqui para a frente. Não poderia haver um fechamento melhor.
Levy, que desde o primeiro momento foi recebido como um remédio amargo e ineficaz para os desafios que o país tinha e ainda tem por enfrentar, se confirmou como uma aposta equivocada e sem sentido.
Oriundo do insaciável mercado financeiro e expoente valoroso de uma das mais ortodoxas vertentes de uma política econômica recessiva e antidesenvolvimentista, o ministro tinha como missão primária acalmar os mercados sempre desejosos de mais juros e lucros.
Não só não acalmou como ainda trouxe prejuízos consideráveis à economia brasileira. As sucessivas propostas de "arrochos fiscais" só não foram mais desastrosas do que a sua própria vocação para negociação junto ao congresso.
Mais do que os inúmeros constrangimentos que causou entre as demais pastas ministeriais, provavelmente foi o ministro que mais contribuiu para um distanciamento entre as medidas econômicas do governo Dilma e as posições historicamente defendidas pelo Partido dos Trabalhadores nessa área.
Forjado no capitalismo violento e predatório, não conseguiu entender que os interesses de um governo democrático com forte inclinação para o bem-estar social, vão muito além das metas de superávit primário.
O resultado é o que todos sabemos. Pelo primeiro ano em mais de uma década voltamos a nos preocupar com as taxas de desemprego e inflação que foram controladas justamente com políticas econômicas completamente opostas às adotadas por Levy.
Em contraponto, no seu lugar toma posse Nelson Barbosa, economista com um perfil infinitamente mais progressista do que Joaquim e extremamente mais habilidoso na arte de unificar interesses difusos.
Barbosa participou da equipe que formulou a política econômica do primeiro mandato do ex-presidente Lula. Os avanços nos fundamentos econômicos do Brasil decorrentes desse plano nos levaram a adquirir pela primeira vez o grau de investimento que sob o comando de Levy estamos perdendo.
Se por um lado Barbosa defende a inquestionável necessidade de equilíbrio nas contas públicas, por outro não tem dúvidas que o melhor caminho para esse equilíbrio é pavimentado com o incentivo às cadeias produtivas com a consequente geração de emprego e renda.
Por tudo isso, essa é uma troca que caracteriza uma mudança estrutural que faz o governo Dilma, nesse segundo mandato, voltar novamente as suas atenções aos brasileiros que mais necessitam do Estado.
Joaquim Levy demorou a ser demitido do cargo, mas o tempo em que esteve à frente da economia foi fundamental para que pudéssemos ter uma idéia do que seria o Brasil se Aécio Neves tivesse ganho as eleições.
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Sobre o Autor
Economista com MBA na PUC-Rio, Carlos Fernandes trabalha na direção geral de uma das maiores instituições financeiras da América Latina
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