O pano de fundo da política do Rio de Janeiro é, até hoje, a luta do herói Leonel Brizola contra o dragão Roberto Marinho.

Brizola foi homem notável e, como seu brilhante parceiro Darcy Ribeiro, um ser original pela sinceridade – coisa insperada em políticos. Incorporou o que de mais combativo havia na tradição trabalhista de Getúlio Vargas, o nosso nacional-trabalhismo. (trabalhismo porque querendo expressar o interesse dos trabalhadores; nacional porque brasileiro e, assim, a voz de um povo de três raças – tristes? – e todas as crenças).

Roberto Marinho era um publisher competente de jornal local, preocupado com a cobertura dos buracos no calçamento das ruas e as promoções de venda de exemplares; empresário esperto com dois irmãos tolos que arrastou por toda a vida. Conhecendo as fontes do poder real, esperou por mais de uma década que se desfizesse o encanto dos americanos por Assis Chateaubriand, em que supunham ver o self- made-man destrambelhadamente latino; suportou a humilhação de lhe ser tomada a sonhada franquia dos quadrinhos de Disney, afinal doada aos Civita, que vieram da matriz; galgou, enfim, o Olimpo ao fundar as duas TV Globo e, anos depois, com verbas públicas, armar a Rede Globo de Televisão. Foi um medíocre editor de jornal que de televisão não entendia nada, mas liderou com notável competência a indústria de combater Brizola.

O brizolismo se desintegrou, substituído, no plano nacional, pelo novo trabalhismo do PT, que a direita julgava manobrar – coisa paulista. No Rio, o PT jamais deixou de ser o partido da anti-elite, com base eleitoral dispersa entre Ipanema e Recreio dos Bandeirantes. E só recentemente, no plano nacional, com a experiência de governo, limpou-se, embora não inteiramente, do cocô udenista e fez as pazes com a memória de Getúlio, o pai dos pobres.

Numa cidade em que banqueiro de bicho e banqueiro de banco são vizinhos e a grã-finagem paga para fazer figuração em desfile de escola de samba, não espanta que parte dos brizolistas tenha se abrigado no PMDB do Sérgio Cabral filho (o pai, nascido em Cascadura, meu colega e vizinho no Engenho Novo, repórter político e sambista, é uma doçura de gente) que, pelo menos, não é marido de Rosinha,(criatura tão refinada que tem um sobrenome de duas linhas corpo 12) nem merece o apelido de Napoleão de Jardim.

A picaretagem carioca é a mesma do país todo, só que mais visível. E a notoriedade atual se explica porque o Rio fica na fronteira de São Paulo com o Brasil – além, naturalmente, do dinheiro das Olimpíadas.

por Nilson Lage

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