por JM Ribeiro
Na segunda metade do século XV, na Península Ibérica habitavam mais judeus convertidos do que em qualquer outra região do mundo.
Ocupada durante séculos pelos muçulmanos, que concediam aos judeus e cristãos liberdade de culto a troco de um imposto especial, a Península Ibérica tornou-se um refúgio ideal e palco de uma intensa troca civilizatória entre elementos das culturas cristã, muçulmana e judaica.
Entre os frutos desse intercâmbio, destaca-se a Astrologia, quase desaparecida da Europa durante alguns séculos e que retorma ao continente exatamente pela via do contato com o mundo islâmico, na região do Mediterrâneo.
Com a progressiva unificação da Espanha (resultado da união dos reinos de Leão e Castela e, mais tarde, destes com Aragão) os muçulmanos e os judeus foram aos poucos "empurrados" para o sul, obrigados a migrar para o Marrocos ou a fazer uma conversão forçada ao cristianismo, porém, tal conversão era sempre vista com desconfiança, já que na maioria dos casos estas pessoas continuavam em segredo a praticar seus antigos cultos.
Tomás de Torquemada, 1420 - 1498, foi o Grande Inquisidor (inquisidor geral) dos reinos de Castela e Aragão. Era o confessor da Rainha Isabel.
Nomeado como inquisidor pelo papa Inocêncio VIII e prestigiado pela rainha Isabel de Castela, este clérigo promoveu uma feroz caçada contra bígamos, agiotas, judeus, homossexuais, bruxas e hereges.
Ele foi descrito pelo então afamado cronista espanhol Sebastián de Olmedo como "O martelo dos hereges, a luz de Espanha, o salvador do seu país, a honra do seu fim".

Homossexuais, judeus e mulheres "pecaminosas" estiveram entre as vítimas prediletas da Inquisição Espanhola
Geralmente, baseado em denúncias de fraca sustentação, os investigados eram presos e submetidos a interrogatório nos calabouços da Inquisição. Enquanto os açoitamentos e torturas eram deflagrados, Torquemada passava o tempo sussurrando as suas preces.
Torquemada difundia que os judeus não eram confiáveis e que o país precisava possuir apenas sangre limpia, ou seja, sangue puramente cristão. O objetivo da Inquisição era a erradicação da heresia, o que, para Torquemada, era sinônimo de eliminação dos marranos (judeus convertidos).
Para estimular as delações, a Inquisição chegou a publicar um conjunto de orientações que ensinava os católicos a vigiar os seus vizinhos e a reconhecer possíveis traços de judaísmo.
A pena mais leve imposta aos marranos era o confisco dos seus bens.
Os judeus que sofriam apenas o confisco podiam dar-se por satisfeitos. O mais comum era serem obrigados a desfilar pelas ruas vestidos apenas com um sambenito - traje humilhante, que definia sua condição de hereges - e flagelados na porta da igreja. A etapa seguinte era a morte na fogueira, durante os chamados autos-de-fé, após inomináveis torturas.
Torquemada, no afã de obter dos reis católicos a expulsão definitiva de todos os judeus, promoveu em 1490 um julgamento-espetáculo, onde as vítimas foram oito judeus acusados de praticar rituais satânicos de crucificação de crianças cristãs.
Pressionados pelo clima de crescente intolerância, em 1492 Fernando e Isabel publicaram seu Edito de Expulsão: "Decidimos ordenar a todos os ditos judeus, homens e mulheres, que deixem nossos reinos e jamais retornem a eles".
Foi concedido aos judeus que permanecessem até julho na Espanha. A partir daí, os que fossem encontrados seriam mortos. Muitos fugiram para Portugal ou Norte da África, onde enfrentaram mais perseguições; alguns, sem alternativa, permaneceram na Espanha como "judeus ocultos".
Após completar a expulsão dos judeus, Torquemada retirou-se para o convento de São Tomás, em Ávila onde passou seus últimos anos convencido de que desejavam envenená-lo, o que o levava a manter um chifre de unicórnio, considerado um antídoto eficaz, sempre perto de si. Torquemada faleceu de morte natural em 1498.
Fontes:
- Torquemada, o temível inquisidor
- Wikipédia: Tomás de Torquemada
- Constelar: Torquemada, Savonarola e as fogueiras da intolerância
Conclusão: As práticas, os elementos e os sujeitos da Inquisição se assemelham assustadoramente ao genocídio praticado nos estados nazistas no século 20, ambos utilizam sua "fé" cega, seja religiosa ou política, como justificativa para o exercício da intolerância levada a extremos, tanto para encobrir dificuldades e fracassos quanto para impor interesses, ocultos ou não, estimular delações e para ser louvado, como "exemplo de retidão", pelos seus representantes infiltrados nas comunicações gerais ao público, garantindo-lhes o acesso ou a continuidade do poder. a qualquer custo e por qualquer meio.
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