Você vê um entrevistador, ou interrogador, hesitante, despreparado e munido de acusações de extrema fragilidade.(Abaixo deste artigo, o vídeo.)
Na contrapartida, o entrevistado, ou interrogado, responde a todas as questões com a clareza que faltou por completo a Moro. Dirceu está cansado, claramente, abatido – mas mantém o raciocínio límpido e rápido.
A não ser que você seja um antipetista fanático, ao fim do vídeo você vai se perguntar: “Mas o que este cara tá fazendo preso há tantos meses?”
O que mais chama a atenção é a ignorância sobre a natureza do tipo de consultoria que um homem como Dirceu pode prestar a grandes empresas interessadas em conquistar mercados internacionais.
Qual é a mercadoria que ele tem? Suas relações, o conhecimento que amealhou ao longo de anos de vida política.
Dirceu pode, ou podia, apresentar empresas a autoridades de vários países. É uma prática visceralmente comum – e legal. Quem faz isso não tem o poder de fechar negócios: isso fica por conta da capacidade do cliente em se sair bem em disputas corporativas.
Mas a abertura de porta é fundamental para corporações que não conhecem o país em que pretendem fazer negócio.
Um consultor como Dirceu pode, também, ajudar você a compreender os cenários políticos e econômicos dos países com os quais sonha. Esse tipo de informação ajuda você a tomar, ou não, a decisão de investir num novo mercado.
Moro demonstrou não entender esse tipo de consultoria.
Para ele, aparentemente, consultoria é você encher de planilhas seu cliente e afogá-lo em números.
Há aí um desconhecimento brutal do universo dos negócios.
Eu estava na Abril quando a empresa solicitou os serviços de consultoria de Maílson da Nobrega, o homem dos 80% de inflação mensal.
O que se demandava de Mailson, em sonolentas reuniões em que eu frequentemente dormia, como amigos meus do então Comitê Executivo da Abril poderiam confirmar, é que ele e sócios da consultoria Tendências mostrassem os cenários econômicos e políticos.
Existe, é certo, outro tipo de consultoria. Ainda na Abril, a Booz-Allen fez um trabalho de reengenharia financeira. Aí sim eram pilhas de estatísticas.
Uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa. Mas Moro não domina o mundo dos negócios, aparentemente.
Isso fica evidente também na questão dos 40 milhões que – ao longo de anos – a consultoria de Dirceu faturou.
Ora, é um faturamento perfeitamente razoável para uma consultoria que lida com grandes empresas. Falei na Tendências de Maílson. Pegue o mesmo número de anos e compare os faturamentos dela e da consultoria de Dirceu. Certamente você chegará a resultados parecidos.
É vital sublinhar, também, que faturamento é uma coisa, e lucro outra. Você paga funcionários, aluguel, impostos, e só depois disso tem os lucros.
Do jeito que as coisas foram postas, pela Lava Jato e pela imprensa, fica a impressão de que Dirceu tem em sua conta 40 milhões de reais. Em 2014, apenas a TV Globo, dentro do conglomerado dos Marinhos, faturou 12,4 bilhões de reais. É como dizer que cada Marinho ficou com 4 bilhões e uns trocados em sua conta pessoal.
Tudo é feito para engodar as pessoas. A mídia em nenhum momento joga luz sobre as sombras, porque lhe interessa demonizar os inimigos, como Dirceu.
O vídeo deixa claro por que uma banca de advocacia inglesa considerou a Lava Jato, num parecer, uma afronta ao Estado de Direito.
Nas questões de Moro, todas respondidas sem titubeio por Dirceu, não há rigorosamente nada que justifique a prisão. São coisas vagas, mal-sustentadas, e espetacularmente amplificadas pela mídia. Ele admitiu que aceitou, erradamente, uma reforma de presente da construtora de um delator. “Não é dinheiro de propina”, afirmou. Há prova de que seja? Não. Convenhamos: uma reforma seria um trocado no mundo dos bilhões da Petrobras. Não faz sentido. Mas ainda assim: que se prove, e o fato é que não apareceu prova nenhuma.
O que se verifica é um abuso.
Para olhar para o lado positivo, é a primeira vez que Dirceu tem a chance de se defender, algo que não foi lhe dado nunca nem pela Lava Jato e nem pela imprensa.
Sua defesa de si mesmo é um testemunho exuberante da pobreza miserável do jornalismo nacional – e do conhecimento limitado do juiz Sérgio Moro.
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