Política

DESALENTO PETISTA (MAS HÁ OUTRO CAMINHO)
por Julian Rodrigues, especial para o Viomundo

Após mais de uma década sob a hegemonia de uma estratégia que elegeu a conciliação como valor absoluto; do pragmatismo consolidado como caminho único para mudanças (sempre graduais); da estigmatização da mobilização social e do enfrentamento ideológico, eis que hoje a maioria dos quadros petistas e boa parte da militância de base se encontra prostrada.

Converso com meus companheiros e companheiras, militantes, quadros intermediários e mesmo dirigentes do PT e, em quase todos, só vejo desalento, pessimismo e desorientação sobre o cenário político-econômico. Sobram derrotismo, passividade, conformismo.

Mas, ora: nunca o PT e o projeto democrático-popular estiveram tão atacados. Estivemos à beira do impeachment de Dilma e Lula pode até ser preso! A conjuntura exige mais do que nunca reflexão, coesão, clareza, disposição de luta, mobilização.

TODAVIA, a responsabilidade sobre esse estado de torpor não pode ser atribuído apenas à militância e aos quadros médios.

Defensivismo, falta de combatividade, burocratismo, acomodação, ausência de formação política, hiper-pragmatismo, distanciamento da luta social foi um arcabouço construído pela maioria da direção petista e pelo nosso Lula nos últimos 20 anos.

O mais grave: mesmo nesse momento de crise mais aguda, nem a maioria da direção do PT, nem Lula, e muito menos Dilma fazem qualquer movimentação assertiva, combativa, de enfrentamento ao tsunami reacionário.

Parecemos todos avestruzes, com nossas cabecinhas docemente enfiadas no chão.

Será que a tática (genial e secreta) é apanhar seguidamente sete rounds e reagir no final do oitavo, com um nocaute espetacular, mimetizando Mohamed Ali – naquela lendária luta contra Foreman?

Um exemplo: alguém sabe explicar o que foram aquelas três inserções do PT veiculadas semana passada?

A protagonizada pelo Rui trouxe bom discurso, mas sem um chamado mais concreto à luta. A outra, reproduziu um senso comum, meio auto-ajuda, na linha “sou brasileiro, não desisto nunca” – inócua. E a terceira, pior de todas: conclamou todos brasileiros, os azuis, os verdes e os vermelhos a abaixarem suas bandeiras, porque o momento agora é de união nacional. Cumã? Será que combinaram com os tucanos isso? Really?

Logo agora, no momento que deveria ser de absoluta resistência, de organizar a contra-ofensiva ao golpismo e à tentativa de destruição do PT e linchamento do Lula?

Nesse quadro crítico, a linha da nossa direção é baixar as bandeiras vermelhas? Fugir do enfrentamento político? Torcer para crise passar? É conciliar com quem quer nos exterminar?

Todos os dias fico me perguntando o que mais precisa acontecer para o governo Dilma mudar sua política econômica ou para a presidenta trocar o Ministro da Justiça e dar um basta aos abusos da Polícia Federal tucana?


E o que ainda mais falta para que Lula e a maioria da direção do PT reajam partam para a disputa aberta contra a direita? Quando vão parar de subestimar a grande mídia, o aparato MP-PF-Judiciário, o PSDB, a burguesia, o imperialismo?

Será que estamos esperando a prisão de Lula e a cassação de registro do PT para pensar em começar a reagir?

Daí por que só restou à maioria da militância petista – forjada na política de conciliação – um governismo acrítico e um profundo desalento.

O que nos salva é que nesse Brasil existe muita esquerda organizada. E existe o petismo, uma ampla massa militante e simpatizante, que pode fazer a diferença.

Temos a Frente Brasil Popular (com CUT, MST, UNE, CMP), temos a Frente Povo sem Medo, temos movimentos sociais, temos o ativismo digital, a juventude progressista, temos PSOL, PCdoB, setores do PDT, PCO, a base petista não entorpecida.

Esses setores barraram o impeachment. Apontaram a possibilidade da construção um campo de resistência e re-afirmação do projeto democrático-popular e socialista no Brasil.

E são esses atores que no dia 17 de fevereiro, 10h, estarão no Fórum da Barra Funda dizendo para as elites: “mexeu com Lula, mexeu comigo”.

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Julian Rodrigues, professor; jornalista, ativista movimento LGBT e de DH, militante do PT-SP.

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