"Eu não vou me matar, como Getúlio, nem fugir como fez Jango. Eu vou conversar com o povo."
Essa frase do Lula sempre me intrigou. O que ele queria dizer com isso?
Faço essa pergunta por que sempre que o ouvia falar assim, parecia que ele queria dizer que essa sua estratégia era mais inteligente. Ou melhor, que ele tinha essa "carta na manga", diferentemente de seus antecessores.
A política tem algo de mágico. E quando falo em política, me refiro a algo que transcende a modernidade democrática. Refiro-me à humanidade. Os grandes líderes da história tem algo de mágico, de transcendente. Com isso quero dizer que as instituições não existem, o que existe são as pessoas e suas crenças.
Nas sociedades modernas, crê-se haver três poderes, mas eles de fato não existem. Ou melhor, eles existem à medida que se acredita neles. Eles são uma construção subjetiva da coletividade humana. E a prova de que não existem, é que basta essa mesma coletividade acreditar em outra institucionalidade que a antiga desaparece.
Digo isso, porque quando um "Judiciário", um "Ministério Público", um "Poder Legislativo" agem afrontando um "Líder" eles correm um sério risco. Trata-se de um teste de forças entre institucionalidades. Um teste em que a fonte alimentadora dessas forças é o imaginário coletivo. De um lado, a tradição, a ordem instituída, o "deve ser assim", ou "sempre foi assim"; de outro, o novo, o melhor, o futuro. E é isso que move a humanidade.
O que aconteceu em Congonhas?
A única questão que tenho certeza é que Lula não foi levado para lá para depor. E se ele só foi até lá e depois foi dispensado, é porque algo deu errado.
Não se planejou levar Lula à Curitiba? Desistiu-se desse plano? Foram incapazes de levá-lo adiante, frente a uma força maior?
Essa é a aura de um líder. Ele tem uma força invisível, uma energia difícil de ser traduzida.
Basta lembrar que foi a partir desse ato frustrado que se despertou uma reação, de certa forma, inesperada.
Tentou-se ainda dar um último golpe de misericórdia, mas quando mais se tenta medir forças com o líder, parece que mais forte ele fica.
E daí, eu volto a frase misteriosa. "Não me suicido, não fujo, vou conversar com o povo." Enquanto as institucionalidades da nação se dividem em três, o líder é uma só institucionalidade. Temporária é verdade, mas tão viva quanto às demais. E em tese, por ser uma só, mais forte.
O STF, na pessoa do Gilmar Mendes, impediu-o de assumir o ministério. Agora, o MPF, quer impedi-lo novamente. Frente aos atos das instituições da República, sua agenda de ir ao encontro do povo parece se intensificar. Na sua primeira aparição, quase quatrocentas mil pessoas foram às ruas para ouvi-lo. No último sábado pela manhã, no Ceará, sessenta mil pessoas. E à medida que o cargo no Palácio fica mais longe, parece que a conversa com o povo fica mais próxima. E assim, sua profecia se realiza.
Devemos lembrar que Lula perdeu três vezes, sempre com um discurso radical, de enfrentamento ao establishment. Ele só ganhou quando contemporizou com os poderes instituídos, aí incluído o mercado. E isso ocorreu, segundo o professor Singer, no "Sentidos do lulismo", porque o povo, que vive em situação frágil, prefere não correr mais riscos além daqueles que já enfrenta para a sobrevivência. Porém, ao longo de seu governo promoveu-se uma sensível mudança e ele encerrou seu mandato com oitenta por cento de aprovação.
E aí vem a pergunta: qual a verdadeira força desse líder?
Será ele capaz de medir forças com as instituições da República e o establishment que lhe dá sustentação?
Estará o povo pobre, depois de ter galgado um degrau, disposto a correr mais riscos?
Estará o povo brasileiro, na sua grande maioria, disposto a encarar as reformas, reformas, e mais reformas..., que tanto diz sonhar?
Os poderes da República balançam.
Um aparelho judicial completamente parcial e com salários além do teto constitucional, auxílios sem fim (moradia, creche, etc.), dois ou três meses de férias, aposentadoria integral, meses a fio de diárias.
Um legislativo com uma ficha corrida imensa, se arrogando o paladino da moralidade. Seu presidente é uma espécie de paradigma da corrupção. Os presidentes do TCU envolvidos em graves denúncias de corrupção. Todos os líderes da oposição envolvidos em denúncias. Desde FHC e sua antiga "namorada" Mírian/Brasif/Globo, passando por Serra da Privataria, Aécio de Furnas, o "mais chato", até Alckimin da Merenda, Metro, etc.
Na outra ponta, no mercado, tem-se uma mídia monopolística, parcial, sonegadora e corrupta em conivência com a CBF/FIFA. Um empresariado em conluio com políticos corruptos.
O que sobra da República, de seu establishment e seus poderes constituídos?
Daí a frase enigmática do líder. Vou conversar com o povo.
Como que a dizer para ele: vocês querem reformas? Vocês querem debatê-las?
Eis me aqui, disposto a fazer essa conversa e enfrentar esse desafio.
Alea jacta est. Cabe ao povo escolher seu destino.
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