Temer, o verbo, é uma obrigação cívica à vista do que se pode esperar dos citados, quase todos, para compor um governo Temer, o nome.
A voracidade com que os oportunistas se lançam em disputa por um bom pedaço do governo só se equipara, em despudor, à ostensiva incitação desse ataque felino como expediente do próprio Temer –um modo de se fazer visto como presidente.
Michel Temer está tão entregue a três ou quatro pessoas como esteve em sua longa presidência do PMDB. Combinação de fraqueza natural e pose artificial, Temer deu oportunidade e cobertura a que as piores correntes internas proliferassem no partido, situação da qual Eduardo Cunha e o mercantil PMDB da Câmara são dois dos vários efeitos. Foi a fraqueza, aliás, a razão das suas reeleições na presidência. Não haveria motivo para esperar algo diferente de Temer na passagem de uma presidência para outra. Até por já estar constituída, de sua parte e à sua volta, a mesma situação.
Albert Fishlow, o mais conceituado dos brasilianistas, e agora uma das muitas vozes internacionais que a imprensa brasileira não divulga, tem uma visão a ser anotada:
"O impeachment não será o fim da crise. Será o começo".
Temer, o verbo por causa do nome, pelo que será dado ao Brasil é como um estigma, uma sina. Uma tristeza sempre repetida.
OS PREOCUPADOS
O procurador Deltan Dallagnol dá notícia da preocupação na Lava Jato, da qual é coordenador, com a visão de que "a mudança de governo e mesmo a Lava Jato são meio caminho contra a corrupção. Não concordamos com essa visão. A corrupção não é privilégio do partido A ou do partido B".
A preocupação se justifica e fica bem que integrantes da Lava Jato a tenham. Mas pede um complemento. Não sendo a corrupção exclusividade de um ou de outro, não seria o caso de a Lava Jato interessar-se também pela corrupção do outro? Os doleiros informantes da Lava Jato não serviram só ao "partido A". E as empreiteiras não atuaram apenas durante governos do mesmo "A".
O complemento não precisa ser verbal. É mesmo preferível que seja em atos.
OS COMPANHEIROS
As mutantes atitudes do PSDB quanto a participar de um governo Temer diferem das demais: a par da questão de cargos, é a eleição presidencial de 2018 que determina as decisões peessedebistas.
A recusa inicial à participação foi lançada por Aécio Neves porque José Serra já buscava sua inclusão no ministério, falavam até na Fazenda, e isso poderia pô-lo em vantagem para sair candidato do PSDB. Advertido de que Serra quer ser ministro, mesmo se dividindo o PSDB, Aécio recuou. O racha complicaria sua pretensão eleitoral.
José Serra começou posto na Fazenda, caiu para a Saúde, daí para a Educação e agora foi parar nas Relações Exteriores. No ministério, nada mais distante do eleitorado. A mudança que prejudica Serra está ligada à sua disputa com Aécio pela candidatura.
A VINGANÇA
Eduardo Cunha foi o fator decisivo para haver o processo de impeachment. Ao aceitar um dos pedidos, vingava-se em Dilma da posição do PT, no Conselho de Ética, por sua destituição da presidência da Câmara.
A situação de Eduardo Cunha como denunciado no Supremo Tribunal Federal agravou-se muito nos últimos dias. A haver um governo Temer, o presidente da Câmara se torna uma espécie de seu vice, como primeiro na linha de sucessão. E no Supremo emerge a tese de que tal condição é inaplicável a um réu criminal, justificando sua destituição pelo tribunal.
Ou seja: Eduardo Cunha faz de tudo no Conselho de Ética para não cair, mas o processo de impeachment, que deslanchou por vingança, o põe na iminência da destituição.
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