Acordei com fogos. Não sabia se era pela cocaína chegando no Bexiga, bairro central de São Paulo/SP ou se era por conta do golpe. Como diz a lenda, tem tanto traficante entre os golpistas, que pode ter sido pelos dois. E aí pensei em escrever um texto sem títulos óbvios como, "O Dia Seguinte". Sem inspiração, fui no feice e postei: "pus o nome do Temer/Marinho/Bonner na boca do sapo. Se o Supremo Tribunal falhar, resta essa esperança - o sapo. Se tudo furar, rasguem a Bíblia e a Constituição, pois será o triunfo do mal. É guerra mesmo!
Falo de guerra com tristeza e desânimo, até porque não a quero. Ainda que deseje uma reação forte à altura desse escárnio contra a Democracia. Afinal, até o New York Time está ironizando a campanha moralista no Brasil, conduzida com o endosso de Paulo Maluf. O NY até reproduz o slogan do parlamentar, "Rouba mas Faz" – um figurante do alerta vermelha da Interpol.
Mas, o que importa tudo isso? Era ódio mesmo e o combate à corrupção era a desculpa. Todo mundo sabia do golpe articulado há tempos. Uns se recusavam a crer e outros apostavam no apoio popular (que não veio). graças ao envenenamento das consciências promovidos por Malafaias, Bonners, Civitas, Frias, Saads e outros "moralistas" de plantão. Lei, dignidade, honradez nada importava porque os fins justificavam os meios: caçar o voto popular.
Mais que nunca, ontem, fugi da latrina dos Marinhos e ao percorrer os demais canais de televisão, só encontrei debatedores canalhas defendendo o golpe. Leia-se, uma unanimidade artificial e ainda tive que ouvir de um dos burros-falantes essa pérola: "Isso logo passa. Esses trinta petistas que ainda estão por aí queimando pneu, logo perderão fôlego por falta de financiamento...". Triste até pra mim que não sou PT!
Pois é. Nas eleições passadas o lema dos perdedores era ganhar ou ganhar. Vale Black Blocs, Fiesp, Iluminatis, Ford, Rockfeller, McCai, abaixo-assinado para o Tio Sam... Vamos despencar a popularidade da Dilma, pedir recontagem de votos, tentar impugnar contas de campanha, pautas-bombas, vamos dizer "Somos todos Cunha". E aí teve até um neonazista brasileiro que foi pedir apoio aos congêneres alemães e levou uma camada de pau...
Há alguns meses, com o golpe já maduro, mais ainda não podre, eu estava na sede da Polícia Federal em São Paulo, durante a posse do novo chefe local, o delegado Disney Rosseti. Lá, por acaso, à revelia do empossado, encontrei uma turminha do quibe cru, empenhada na recuperação de capitais escondidos no exterior, que já davam como certo, pelo menos três coisas: a) aprovação da anistia para o retorno da grana ao Brasil; b) a derrubada de Dilma Rousseff c) a perguntinha básica – "quando Michel assume?".
A gente acreditou e lutou, por ser típico de quem acreditar no bem. No fundo a gente quer crer nas instituições, mas acabei esquecendo que numa banca examinadora da Faculdade de São Francisco, alguém ligado à Corte Suprema teria cometido "numa irregularidadezinha", e, se petista fosse, logo seria tratado como crime.
Lembro que pouco tempo após as eleições, Ciro Gomes chegou a dizer que Dilma Rousseff não iria governar, que havia um golpe pronto e povo não sabia o que lhe esperava. Não estou sendo textual, mas a ideia é essa. Não foram poucas as rodinhas de maçons, sempre inquietos com a demora, custe o que custar, ainda que ao final se saudassem com o tal TFA (Tríplice Fraterno Abraço).. Mas isso já é outro assunto.
E por falar em maçonaria, um maçom digno e consciente (existem alguns!) me levou para uma palestra. Lá eu disse: o Brasil está muito mais para OCDE, entidade que congrega os países mais ricos do mundo, do que para a Venezuela... Adiantou? E por falar em maçons, nos grupos de delegados da PF, o golpe, ainda que não tratado por esse nome, também era dado como certo.
Portanto, criei, criamos ilusões à toa. Agora, não adianta esperar pelo Exército Vermelho anunciado por falsos pastores e paranoicos anticomunistas. Os médicos cubanos, guerrilheiros que vieram para o Brasil aliciar franco-atiradores integrava uma onda de terrorismo para alimentar o golpe.
A TV Globo levou décadas para admitir que apoiou o golpe e até pediu desculpas. Mas, como dizia vovó, cesteiro que faz um cesto faz dois. Olha ela aí de novo! Resta saber, agora, em quanto tempo a PF pedirá desculpas à sociedade por apoiar um golpe promovido por ladrões ou suspeitos de...
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo
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