Temer o mestre de cerimônias no circo da marmelada


POR FERNANDO BRITO 

Michel Temer aparece sempre com seu ar empertigado.

Manda dizer que está irritado com vazamento de medidas anipáticas: ora com as aposentasdorias, ora com o desmanche da Laja Jato, ou agora, com esta história da abolição do recesso parlamentar.

Se você não sabe – e duvido que já não saiba – entenda que só existe uma coisa verdadeira em Temer: a falsidade.

Ele aparenta, por regra, ser contrário do que é.

Está posando de "grande árbitro" da composição de seu ministério quando é, ma verdade, uma peça sendo empurrada para lá e para cá no serpentário de forças que reuniram-se para o impeachment.

Bernardo de Mello Franco,  uma das raras lúcidas vozes remanescentes na grande imprensa, chama a atenção para isso:

A propaganda do corte de ministérios já começou a fazer água. Ontem a Folha noticiou que o vice desistiu de reduzi-los a 20 para acomodar partidos que votaram pelo impeachment. A conta subiu para 26 e ainda deve aumentar até a posse.

Há riscos de retrocesso em outros setores. A bancada evangélica, que se uniu para derrubar Dilma Rousseff, agora apresenta a fatura. Na quarta, Temer recebeu e orou com o pastor Silas Malafaia, conhecido pela pregação ultraconservadora na TV.

Ele cobrou o fim da distribuição de material didático que ensina as crianças a respeitarem a diversidade sexual. Dois dias depois, vazou-se que o vice deve entregar o Ministério da Educação ao DEM, que abriga os políticos da igreja do pastor.

Mesmo assustadora, convenhamos, vicississutudes da acomodação de forças de qualquer governo, seja de suas próprias seja das que, com a perspectiva de poder vêm sobrenadando a enchente do poder.

A diferença, neste caso, e Bernardo o destaca, é que Temer dependeu do povo para vestir a faixa.

E que suas até agora anunciadas propostas – "defende a flexibilização das leis trabalhistas, o fim das despesas obrigatórias com a saúde e a desvinculação do salário mínimo aos benefícios sociais" – não o elegeriam senão para o papel de Judas.

Temer, portanto, não tem forças próprias a sustentar seu ar afetado.

É de Cunha, na Câmara.

Terá de ser tucano – e radicalíssimo – na economia.

Terá de ser fundamentalista nas questões "de fé e moral".

E tudo isso bem empertigado, a dar uma aparência que permita a mídia exibi-lo como um estadista do Museu de Cera de Madame Toussauds, embora o critério que se se façam ali apenas estátuas de celebridades o deixe fora da lista.

Felizmente, Temer terá a dividir consigo o papel de ridículo pomposo os 11 ministros do supremo tribuna federal (a corte que perdeu o direito de usar letra maíuscula). Falam difícil, esbravejam quando alguem sugere que possam se acovardar, mas patrocinaram a tomada de poder por Eduardo Cunha, procastinando decisões e resumindo a uma "questão técnica" o direito de um criminoso denunciado e réu presidir um processo de impeachment.

Agora, cínicos, discutem se Cunha, nas ausências de Temer, pode se sentar na cadeira presidencial.

Não se preocupem, excelências, ele governa de pé, mesmo.

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