Não tenho como esconder. Sempre admirei o pernambucano Lula. Desde o primeiro momento em que o vi em ação passei a acreditar nele. Sabia aonde ele poderia chegar. Corajoso, ágil, veloz, driblador quando preciso, recuado quando a estratégia pedia.
Poucas vezes abandonava o lado esquerdo, mas sabia infiltrar-se pelo centro. Quase voava em diagonal quando percebia a direita muito congestionada, aquela marcação cerrada. Era quando antevia o espaço e o caminho a seguir.
Apesar do jogo de cintura, foi muitas vezes derrubado. Talvez, até por isso os adversários nunca o pouparam. Solada, rasteira, pé no peito. Contra ele, tudo valia. Poucas foram as interferências em seu favor. Nem de quem ali estava para mediar o embate nem daqueles que o avaliavam. Sempre recebeu mais críticas do que elogios, embora suas performances cada vez mais perfeitas.
Não que Lula tenho sido o único pernambucano de minha paixão. Embora paraibano, sempre fiz de conta que Ariano Suassuna nascera no Recife e não em João Pessoa. Creio que ele também assim se considerava. João Cabral, ah este sim, recifense da rua da Jaqueira. Nossa, tantos leões do Norte: Nabuco, Bandeira, Nelson, Josué. Capiba, Gonzaga, Alceu, Dominguinhos, Chico Science. Chacrinha.
Permito-me uma obviedade, esta gastronômica. Os saborosos moluscos. Em longínqua data, jovem, solteiro ainda, amigo me convenceu de comê-los crus depois de mergulhados em cachaça. Regrados e pacientes, contávamos o tempo de "cozimento". Exatos cinco minutos. Foi em Ilhabela. Nunca mais repeti a façanha.
Amo e amei a todos esses pernambucanos e a muitos outros, os que se foram e os que ainda passeiam por aqui. Mas a nenhum deles dedico a paixão que senti por Lula.
Só que ele sumiu. Onde anda? Teria ido para as Arábias? Rebelde, como quando brigou com um juiz, estaria preso? Não acredito. Sempre foi safo, macunaímico na esquerda, fulminante no centro. Não se entregaria a não ser com um para-belo na mão, como fez Corisco e sua Dadá diante de Antônio das Mortes.
Pois é, meus irmãos, apesar de flamenguista e ter visto Canhoteiro jogar pelo São Paulo, Lula, o Luís Ribeiro Pinto Neto, nascido em 1946, na cidade de Arco Verde, revelado pelo Ferroviário de Natal, brilhou ao ponto de minha paixão, como ponta-esquerda do Fluminense, entre 1965 e 1973.
Estávamos em plena ditadura militar, repressão brava, mas o cara fazia o diabo. Fez 100 gols num tempo em que se jogava futebol e o tricolor carioca tinha Félix, Assis, Altair, Marco Antônio, Denílson, Cafunga, Flávio. E o insuperável Lula.
Em 1971, logo após a conquista do tri pelo Brasil, o Botafogo mandava no futebol do Rio de Janeiro. No elenco Carlos Alberto Torres, Brito, Paulo Henrique, Careca, Paulo Cesar Lima. Uma seleção.
Domingo, 27 de junho, 143 mil pagantes foram ao Maracanã para ver o Botafogo se sagrar campeão. Pule de dez. Não viram. Lula, aos 43 minutos do 2º tempo, fez um a zero para o tricolor. Ninguém esqueceu, este era o Brasil de Lula, um ponta aberto, rápido, driblador, ágil, veloz, como pedia aquele personagem de Jô Soares: "Bota um ponta, Telê"!
Pois é.
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