POR JARI DA ROCHA, COLABORAÇÃO PARA O TIJOLAÇO
A soma das vergonhas – 17 de abril, 12 de maio e 31 de agosto – é proporcional à indignação que sentimos pelo cinismo, tanto da imprensa (e das caras e bocas de jornalistas amestrados), como deste governo deslegitimado pela própria mesquinhez.
Usados como grande desculpa, por mídia e golpistas, o falso clamor das ruas se esfacela diante das mazelas de uma farsa tão mal feita que até o mais afoito paneleiro já se deu conta do papel de otário.
Enquanto estes, envergonhados, se escondem em assuntos de corte e costura, outros vão à luta para reaver o que lhes foi roubado. O voto, os direitos adquiridos e a liberdade plena de ir e vir, de protestar e de exercer sua cidadania de fato.
Observe-se que muitos ainda falam num país dividido como se isso fosse um problema, pois, segundo eles, melhor seria um país unido pela 'paz' da ignorância e da passividade.
Esses mesmos que repetiram incansavelmente a 'ideia' de que havia uma censura e uma ditadura petista-bolivarista-esquerdista, são os que agora se calam diante dos abusos e da repressão policial.
A repressão é a arma recorrente de golpistas, pois sem legitimidade, não têm o que dizer a não ser negar o golpe e agredir quem diz o contrário. Ditadura, censura de quem, do PT?
Ocorre que mesmo que tentem calar os cidadãos que se expressam nas ruas ou nas redes sociais ou os blogs que descontroem incansavelmente as mentiras propagadas, não será mais possível esconder o que o mundo já sabe e o que mais da metade da população brasileira também sabe. Que é golpe.
A elite tem medo do povo e por isso é agressiva. A repressão que estamos presenciando para tentar eliminar a reação legítima contra o roubo do poder do povo e pelas demais injustiças que já estão na ordem do dia, tem limite.
Por isso, o 64 de Michel Temer começa em 1968.
Porque a repressão inicial de 1964, contra sindicatos, comunistas, petebistas chocava menos, como tudo neste país choca menos quando é no porão.
A classe média, que marchara com Deus pela Família nas ruas de 64, ainda demoraria a sentir os casetetes do golpe.
Naquela edição, o golpe fez sua vítima que se tornou símbolo, quando assassinou o estudante secundarista Edson Luiz. A passeata dos cem mil, no dia 26 de junho de 1968, no centro do Rio de Janeiro, fez a ficha de incrédulos (do golpe) cair, mas também que o governo militar decretasse, meses depois, o AI-5, o mais duro ato institucional contra as liberdades.
Desta vez, no mesmo dia em que a democracia foi golpeada pelos 'votos' de 61 senadores, os brucutus já estavam nas ruas "batendo e mandando prender" e novamente um símbolo nos alerta sobre o estado que querem impor.
Débora Fabri, a estudante que ficou cega de um olho, durante protestos no centro de São Paulo, poderia ser esse símbolo, mas, pela disposição violenta deste governo (característica de governos ditatoriais, como este) ainda lhes falta ver um corpo tombar.
Os déspotas de hoje não usam farda e óculos escuros. Enquanto sorriem diante das câmeras, ordenam que o aparato bélico do estado baixe o sarrafo em jovens estudantes, jornalistas, advogados e professores.
Há, no entanto, uma diferença brutal nesses 52 anos. A consciência política, principalmente entre os jovens. Estudar numa faculdade não é mais um privilégio, mas um direito. (Assim como vários outros direitos que foram concedidos ao povo que mais precisa.)
A perda de privilégios sempre aguça o ódio dos mesquinhos.
O erro da direita foi ter deixado um Luiz Inácio mostrar ao povo que é possível viver com dignidade, que a fome era só uma desculpa cretina e que as oportunidades devem ser para todos e todas.
A perseguição a Lula não é à toa. E ele sabe disso mais do que ninguém, por isso deu a senha: "existem milhares de Lula" como uma espécie de procuração da coragem, determinação e consciência política.
A direita tem um problema sério. Eliminar essa praga que se alastra feito epidemia: o legado imaterial de Lula. O Brasil nunca mais será o vira-lata de antes, mesmo que prendam Lula, mesmo que o matem.
Pouco mais de uma década foi suficiente para se ter consciência, pela primeira vez na história desse país, que o Brasil pode ser grande e benevolente com os filhos seus.
Os protestos não vão parar. A cada dia mais e mais pessoas estão indo às ruas para mostrar que não se leva mais, assim na mão grande, a esperança, a liberdade e os direitos de um povo.
O golpe é uma vergonha descarada.
Quanto a Michel, que se tornou o símbolo máximo da traição nacional, o adúltero imoral da democracia, resta-lhe ser escrachado por onde passa, afinal, quem vai confiar num golpista e traidor?
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