Tornou-se repetitivo. É como se já tivesse dito tudo ou quase tudo sobre o golpe. Paira no ar uma sensação de vazio e impotência diante da tirania. Um simples Fora Temer não nos compraz, mas o golpe de estado aí está. Não importa se com veneno, faca, bala. Se disso deriva a morte, dolosa ou culposa o nome é homicídio. Alguém já o disse - se com canhões, caneta, ou embustes legais, o voto popular é cassado e a vontade de aventureiros se impõe: é golpe. Depois dele, a repressão, a retaliação, o escárnio, os postes onde cabeças serão expostas.
Sérgio Moro não entende de metáforas. Sua visão limitada, moralista e cartesiana têm o mesmo eco da louca atriz que diz pagar "o Bolsa Família" dos Nordestinos. Que importa o passado dessa senhora, diante da adolescente que sem papas nas línguas mostrou que é do Paraná que brota o ódio e o sangue do golpe, tão bem aproveitado pela assassina PM paulista. Mas, os líderes dos mais de 300 investigados foram "conversar com dona Carmem".
Não, não é golpe, dizem. Não houve "Cadeira do Dragão", "Apolo 11", "Maricotas" "Pau-de-Arara" - hediondos recursos para arrancar "verdades". Mas existe o jaguncismo do "teje preso" até que alguém fale. Vale qualquer confissão, desde que específica, ainda que mentirosa para alimentar o noticiário do coronelismo eletrônico. Qualquer coisa que alimente o imaginário coletivo; basta sujar a biografia de Lula, reconhecido líder do Hugo Chave a Barack Obama.
O Lula do tríplex desqualificando por Maluf: "Aquilo são três BNHs empilhados. Mas, cumpre o papel do aparelho de som do Lula na era Collor, num debate criminosamente editado por um capataz dos Marinhos para favorecer a cultura de uma quadrilha. A mesma a qual Sérgio Moro - consciente ou inconscientemente ou como mera consequência de seus atos, está a servir. A mesma cultura de Moros, Marinhos, Marinhos, Malafaias...
A vivência por 35 anos dentro da Polícia Federal me autoriza a fazer leitura independente. Não tenho "darfs" em aberto, meu nome não está na Farsa Jato, Zelotes ou HSBC, nem os envolvidos nelas são meus amigos. Se aponto falcatruas de outros partidos não é para justificar e ou inocentar erros. É para mostrar a hipocrisia dos discursos. Lula e seu partido são mais perseguidos pelos seus acertos do que pelos seus erros.
Aponto ilegalidades, inconsistências de discursos. À socapa, atos ilegais como as prisões de Delcídio Amaral, Eduardo Cunha soam como tentativa de higienizar o golpe. A independência e harmonia entre os poderes da República é um jogo de conveniência. A "corte suprema" interferiu nos demais poderes sempre no interesse do golpe. O discurso oco-paneleiro entre golpistas e até dentro da Polícia Federal, de que os atos da Farsa Jato são ratificados pelos tribunais superiores caiu no vazio. Sim há ilegalidades alimentando o golpe. E a ONU viu.
Mas, não seria de ver com muita alegria, a notícia de que o Alto-Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos (Acnudh) acolheu o pleito dos advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre as investidas ilegais que este vem sofrendo. A ONU, em primeiro juízo preliminar e provisório, vislumbrou indicadores de arbitrariedade e pediu explicações para o governo impostor (Fora Temer!). A ONU, que não ousa discordar dos interesses dos Estados Unidos, tem nesse caso mero papel simbólico.
A ONU e seu morde-sopra deu um "presentinho" para Lula, às vésperas de seu aniversário, para diminuir a tristeza do ano passado, quando a PF truculentamente intimou o filho de Lula só para tripudiar. Mas, por outro lado, comporta outra leitura, pois mesmo em juízo preliminar (fumus bônus iuris), aquela entidade vislumbrou ilegalidades para as quais o STF está cego.
Presente para o Lula, mero recadinho ao nada metafórico juiz da Farsa Jato, que já tornou público seu juízo de aceitação de prova ilegal. Uma ousadia que inspirou críticas do controvertido Gilmar Mendes e "juizecos de primeiro instância" - Renan Calheiros, o golpista.
A ONU deu claro recado a Sérgio Moro: se pleiteia vaga no Tribunal Penal Internacional, cumpra a lei, respeite os direitos humanos, não seja instrumento de golpes de estado. Afinal, vaidade para isso o senhor tem.
Armando Rodrigues Coelho Neto - jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo
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