Por Eugênio Aragão
O que estes dois homens têm em comum? Michel Temer e Ranieri Mazzilli foram premiados pela mesma circunstância excepcional para chegarem ao poder: a situação de emergência política. A breve passagem de Ranieri na presidência interina a partir de 2 de abril de 1964, após o golpe desferido contra o Presidente constitucional João Goulart, rendeu-lhe o curioso apelido de "presidente-modess", aquele que fica no melhor lugar, nos piores dias, só para evitar o derramamento de sangue. O destino não foi clemente com Ranieri. Em menos de duas semanas, premido pela junta militar, deixaria o lugar para o General Humberto Castelo Branco, "eleito" pelo Congresso Nacional. Já para Michel Temer, o destino se fez ébrio: premiou sua traição e lhe entregou uma responsabilidade muito além do que seu minúsculo tamanho pode suportar. Permitiu-lhe corromper o exercício do poder republicano, vangloriando-se de que ser impopular, para ele, seria uma vantagem, porque poderia empurrar à sociedade medidas amplamente rejeitadas, sem se preocupar com a opinião pública. Além de traidor, golpista e indigente intelectual e tecnicamente, mostrou um caráter autoritário que lhe dispensa repassar o poder aos militares. Mas, assim como Ranieri, sentou-se, por um golpe e uma trapaça, numa cadeira que o voto popular não lhe franqueou.
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