Emir Sader: o Golpe que o dinheiro comprou

Faltava um elo. Não falta mais. Temer pediu à Odebrecht dinheiro para a caixinha de Eduardo Cunha eleger sua bancada de 140 parlamentares, para desatar o golpe. Nada que preocupe a Lava Jato ou o STF. O golpe já foi dado, o governo do golpe desmonta o Brasil, impõe a maior depressão econômica que o país já conheceu, joga no desemprego vários milhões de pessoas, empobrece os brasileiros e o Brasil, entrega a empresas estrangeiras patrimônios nacionais. Enorme custo-benefício para quem o financiou e para quem se beneficia dele.
Pela primeira vez, todo o grande empresariado, numa eleição presidencial, se somou em bloco à oposição ao candidato do governo, em 2014. Todos estavam contra Dilma Rousseff, desde que ela começou a diminuir as taxas de juros, no começo do seu primeiro mandato.
Impossibilitados de ganhar, depois de jogar todo apoio a Aécio Neves, a Marina Silva e a Aécio de volta, o grande empresariado concentrou os recursos nas eleições parlamentares. Como fica claro na doação da Odebrecht, foi dirigido para eleger os 140 parlamentares da bancada de Cunha. Que foram a alavanca indispensável para aprovar o golpe e para todos os retrocessos, todos a favor da concentração de riqueza nas mãos dos mais ricos e contra a massa da população.
Não podia ser mais clara e direta a confissão: na sede da vice-presidência, MT recebeu a Odebrecht, junto com comparsas seus, pediu os recursos para os empresários para apoiar a bancada que o elevaria à presidência. Compra de votos, compra de mandatos, dinheiro por fora para eleger a bancada de Eduardo Cunha e de MT.

Há tempos que o dinheiro pesa decisivamente na política. Mas deixou de poder decidir a eleição do presidente da República quando seus candidatos do coração – Collor e FHC – fracassaram e deixaram o campo livre para a vitória de candidatos que defendem um modelo que atende os interesses da grande maioria da população: desenvolvimento econômico com distribuição de renda.
Aí se montou a grande operação de culpar justo esses governos pela corrupção na política, quando a grana continuou a se concentrar do outro lado, dos que apoiaram José Serra duas vezes, Geraldo Alckmin, Aécio. Em 2014, se deu o maior escândalo de financiamento eleitoral, de que a denúncia que envolve diretamente MT é o caso mais flagrante.
Houvesse ainda justiça no país, tivéssemos um STF digno, independente, não acovardado, seria seu tema central, da maior urgência, porque falseou a história recente do país, afetando diretamente a legitimidade do voto popular. Há evidências e provas mais que suficientes para invalidar o impeachment e cassar os 140 parlamentares que foram comprados para promovê-lo, além dos que participaram diretamente da propina, a começar por MT.
Isso sim passaria a história recente do Brasil a limpo. Ficaria evidenciado como o dinheiro intervém nos processos eleitorais e políticos, como os mandatos de grande parte dos parlamentares são conquistados pela sua venda a grandes empresas particulares.
Se nada disso ocorrer, é porque o Judiciário, o Congresso, o governo, estão eles mesmos corrompidos pelo poder do dinheiro, que rompeu com a democracia no Brasil e faz deles coveiros da soberania do voto popular.

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