O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso afirmou, em entrevista exclusiva ao Jornal da CBN, que a realização de uma eleição indireta pelo Congresso em caso de vacância da presidência iria gerar ainda 'mais confusão.' O mecanismo é previsto na Constituição, mas seria usado apenas em caso de cassação da chapa Dilma-Temer, que será julgada pelo TSE a partir desta terça-feira.
FHC lembra que o escolhido pelos parlamentares ficaria apenas um ano no cargo. E seria justamente em ano de eleição. Sobre a separação da chapa, que tem sido ventilada nos bastidores de Brasília, o ex-presidente disse que é uma questão para a Justiça. No entanto, ele afirma que o 'Brasil está há muito tempo de pernas pro ar, mas começa a assentar um pouco. Levar muito tempo em um julgamento que põe em risco a situação vigente tem consequências negativas.' Sobre cassação ou absolvição, ele diz que não sabe se 'é pior a emenda ou o soneto. Temos que pensar que temos 13 milhões de desempregados.'
Perguntado por Mílton Jung sobre a relação entre caixa 2 e corrupção, FHC afirmou que são coisas diferentes:
'Caixa 2 é delito, é crime. Agora, a penalização não é igual à da corrupção. A corrupção se caracteriza pelo facilitário por políticos e autoridades, para burlar dinheiro público e favorecer terceiros. Outra coisa é caixa 2, que pode ser crime também. Mesmo que o caixa 2 não implique em corrupção, implica necessariamente em falsidade ideológica, já que não foi declarado à Justiça.'
Fernando Henrique ainda fez uma defesa incisiva de um modelo de reforma política que reduza o número de partidos e dificulte a criação de novos. 'O sistema partidário eleitoral montado não tem mais a confiabilidade da população. Isso está visível. Houve uma fragmentação partidária enorme. São trinta e poucos partidos, isso é inviável. A maioria não é partido. São letras, são siglas. Eles vão buscar dinheiro no fundo partidário e negociar tempo de televisão.'
Ele diz que 'não há dinheiro que dê conta de trinta e poucos partidos. Tem que ter uma cláusula de barreira. Chegou a hora de fazermos uma reconstrução política e moral no Brasil.' FHC defendeu ainda a proibição de coligações na eleição proporcional e acatou a ideia de um novo 'Plano Moral', em alusão ao Plano Real, que conduziu nos anos 1990.
Pensando em 2018, ele evita cravar seu apoio a um nome específico dentro do PSDB. Sem saber os resultados da Lava-jato e tendo em mente a citação dos principais nomes tucanos no Congresso, FHC diz que é preciso ver 'quem para em pé e quem não para em pé.'
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso está lançando o terceiro volume da série de livros 'Diários da presidência'. Dessa vez, ele trata do período entre 1999 e 2000 e fala sobre o período da crise cambial e da relação com Itamar Franco, enquanto foi governador de Minas Gerais. O trabalho tem mais de 800 páginas, e FHC explica que gravava quase todos os dias o seu diário enquanto esteve no Planalto.
Com isso, criou uma grande quantidade de documentações e gravações. 'Foi sendo pouco a pouco desgravado' por uma assessora que trabalha com ele há 40 anos, explicou. E FHC afirma: 'é um documento para a história.' O próximo volume deve sair no ano que vem e abordar os acontecimentos de 2001 e 2002.
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