Quando a Ministra Cármem Lúcia, contrariando decisões de duas instâncias da Justiça Federal, liberou o Governo Temer para veicular propaganda pró-degola da Previdência, o jogo era claro.
A Ministra, que ficou famosa por ter dito que as pessoas de bem deveriam ter “a ousadia dos canalhas” tem diante de si como ela própria permitiu que um canalha seja mais que ousado, um criminoso com aval dela própria e de sua decisão judicial.
Para que D. Cármem não se melindre com saída falsa de dizer que são os “blogueiros”, vai nas palavras do Estadão:
A ofensiva do governo para atrair apoio à reforma da Previdência passa agora pela distribuição das verbas federais de publicidade, principalmente em rádios e TVs. A estratégia do Palácio do Planalto para afastar as resistências à reforma é fazer com que locutores e apresentadores populares, especialmente no Nordeste, expliquem as mudanças sob um ponto de vista positivo. Os veículos de comunicação que aderirem à campanha terão direito à publicidade federal.
E Mônica Bergamo complementa na Folha:
O governo decidiu contemplar rádios e jornais do interior do país com verbas publicitárias destinadas à defesa da reforma da Previdência. A lista será elaborada a partir de sugestões de parlamentares que apoiam o governo, que indicarão os veículos que devem receber a propaganda. De acordo com integrante do governo, a ampla maioria dos parlamentares que procuram o ministro Moreira Franco, da Secretaria-Geral da Presidência, leva no bolso uma lista de veículos de comunicação que gostaria de ver contemplados com as verbas publicitárias.
Leu, Doutora? É isso mesmo, Temer vai comprar a opinião de locutores e apresentadores populares. Merchandising, ou merchã, como dizemos em publicidade.
Ou será que já faz, com alguns grandes nomes que “explicam as mudanças de forma positiva”?
Não seria o caso de que os colunistas passassem a colocar uma nota de rodapé em seus textos. “Nota de esclarecimento: eu defendo a reforma gratuitamente, ao contrário de outros ‘formadores de opinião’ a quem o Governo Temer está pagando”.
Afinal, não é justo pensar que gente tão bem posta na TV, jornais e rádios esteja levando um “jabá”, não é?
Mas, ressalte-se: um jabá com autorização judicial suprema, dada pela Doutora Cármem, que já manifestou sua admiração pela ousadia dos canalhas.
Os dois jornais bastam para que se peticione pela revogação da liminar. Porque ficará melhor para a Doutora Cármem assumir que foi apenas tola e ingênua ao permitir a propaganda. Mantê-la, com a compra de opiniões escancarada nos meios de comunicação é bem pior: é ser cúmplice de uma corrupção institucionalizada.
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