O que houve com a Lava Jato? Será que os antipetistas estão corretos na afirmação de que, ao finalmente alcançar políticos do PSDB, a isenção dos operadores da Lava Jato estaria demonstrada?
A resposta, claramente, é não. Primeiro, porque todas as suspeitas e acusações eram conhecidas desde antes do impeachment de Dilma Roussef, e foram devidamente sonegadas ao distinto público, escondidas pela Lava Jato e pela mídia, para não atrapalhar o clima antipetista criado entre os cidadãos, assim colaborando para a conclusão do projeto golpista antidemocrático. Segundo, porque o envolvimento do PSDB nas delações é produto inescapável de uma reação popular que possivelmente surpreendeu os golpistas. A mídia alternativa e as redes sociais não deram trégua na denúncia da parcialidade e da motivação política da PF, da PGR, da Justiça Federal e dos tribunais superiores a Sérgio Moro. O golpe ficou mal na foto e sucumbiu. A resiliência da esquerda indignada tornou inevitável a degola de correligionários do golpe, inclusive para aplacar a denúncia internacional do golpe e da parcialidade da Lava Jato, além de servir como justificativa para a inescapável prisão de Lula e o seu impedimento à candidatura em 2018. Terceiro, porque as notícias sobre a corrupção do PSDB não são colocadas em destaque nos grandes jornais, mas apresentadas timidamente com pequenas chamadas. Quarto, porque Sérgio Moro, a principal figura da Lava Jato, continua a não tomar providências significativas em relação à corrupção praticada por políticos do PSDB. Quem tem tomado a iniciativa, contra os tucanos, é a Polícia Federal e a PGR, ainda que com menos fôlego do que com relação ao PT.
Hoje, o panorama político ensandecido do país está assim: ficou evidente até para as minhocas descerebradas que habitam o gramado do Supremo Tribunal Federal que a corrupção no Brasil, pesada e cara para a sociedade, constitui um elemento constitutivo de nossa política independentemente do governo e do partido que esteja no poder. É estrutural e somente será mitigada em seu poder daninho com reformas estruturais. Depois de três anos de investigações da Lava Jato, chega-se à seguinte conclusão: dos grandes partidos, o PT possui um dos menores envolvimentos com a grande corrupção institucional desvelada e não se consegue envolver, nem Lula, nem Dilma, em nenhum episódio concreto de recebimento de propina. Não se consegue demonstrar que Lulinha é o dono da Friboi, da Lua e do Sol.
A Lava Jato e a mídia já perderam a guerra contra a esquerda, embora tenham ganhado e possam ainda vir a ganhar batalhas importantes contra a candidatura de Lula. Contudo, ainda assim persiste a sanha midiátia e jurídica de satanizar o PT e seus líderes, reduzindo o impacto das delações sobre outras figuras importantíssimas do cenário político.
Façamos uma retrospectiva resumida do que foi noticiado sobre o PSDB e suas vinculações com a grande corrupção brasileira. Vou resumir ao PSDB porque este é o partido “queridinho” da Polícia Federal, da PGR, de Sérgio Moro (que sempre comparece em eventos tucanos e dá gargalhadas de compadrio em conjunto dom seus líderes), dos tribunais superiores, da grande mídia e de grande parcela da classe média idiota de nosso país.
Em agosto de 2016, executivos da Odebrecht ouvidos na Lava Jato declararam que José Serra, na campanha presidencial de 2010, recebeu R$ 23 milhões em doações ilícitas. Em outubro de 2016, o valor equivalia a R$ 34,5 milhões. Segundo os delatores, parte do dinheiro entregue no Brasil e parte depositada em contas na Suíça. Oficialmente, a doação da Odebrecht para a campanha de Serra foi de apenas R$ 2,4 milhões (1).
Detalhe importante: não são meras ilações dos delatores desprovidas de provas materiais do crime. Os delatores entregaram os números da contas bancárias que receberam a propina (2).
E esse nem é o maior valor de corrupção cuja suspeita paira sobre José Serra.
O operador financeiro Adir Assad, em proposta de delação premiada à Lava Jato, afirma que Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, ex-diretor do Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A), estatal responsável por investimentos rodoviários de São Paulo, teria recebido, no período de 2005 a 2010, que inclui governos tucanos de Geraldo Alckmin e José Serra, cerca de R$ 100 milhões em esquemas envolvendo o Dersa, tudo com conhecimento de Alckmin e Serra, segundo afirmam pessoas próximas dos tucanos (3).
É bom repetir: cem milhões de reais, algo como cento e sete mil salários-mínimos de R$ 937 ou um milhão e trezentas mil bolsas-famílias de R$ 77.
A contrapartida para ambas as acusações de corrupção seria o favorecimento em diversas obras de engenharia pesada realizadas no Estado de São Paulo.
E tem mais. As investigações da Lava Jato descobriram, ainda, que Gregório Marin Preciado, casado com uma prima de Serra e pessoa de sua inteira confiança, com quem divide propriedades e que foi nomeado para o Banespa na época em que era governador, esteve envolvido na corrupção ocorrida na compra da refinaria de Pasadena, comprada de forma sobrevalorizada pela Petrobras. O amigo e quase parente de Serra teria recebido algo entre US$ 500 mil e US$ 700 mil dólares dos 15 milhões de dólares em propinas que movimentou o negócio (4).
Por sua vez, o governador paulista, o tucano Geraldo Alckmin, sob a alcunha de “Santo” nas planilhas da empreiteira, é acusado pelos delatores de receber ter recebido R$ 10 milhões da Odebrecht em doações ilegais para suas campanhas políticas (5).
A Polícia Federal descobriu que a Odebrecht realizou pagamentos de propinas num total de R$ 48 milhões durantes as obras do metrô de São Paulo na gestão de Alckmin, mas não obteve sucesso em seguir o dinheiro e chegar ao beneficiário (6). Quem era o responsável por decidir definitivamente sobre a realização das obras? Quem poderia ser? Quem? A Polícia Federal tentou, imediatamente, envolver José Dirceu no início das investigações sobre, vejam só, corrupção em obras do governo tucano do maior Estado do país. Como não conseguiu, parece que as investigações naufragaram. Há uma menção expressa ao pagamento de proprina a um tal de “Santo”, mas a PF até o momento não sabe quem é essa misteriosa personagem que parece extraída dos contos de Edgar Allan Poe até no nome. Seria, como nos romances do Dan Brown, um ser malévolo integrante do Priorado de Sião ou da Opus Dei? Quem poderia saber?
Aécio Neves, que aparenta ser amigo e possuir muita intimidade com o juiz Sérgio Moro, com quem divide, sem constrangimento algum de parte a parte, bebidas e gagalhadas em cerimônias públicas, é o político mais delatado na Lava Jato (7) e, junto com Romero Jucá, do PMDB, é o que possui maior número de pedidos de investigações (8). Ele é acusado pelos delatores de solicitar, e receber da Odebrecht, R$ 9 milhões para campanhas do PSDB (9).
Os delatores afirmam que a Odebrecht, líder do consórcio de engenharia que venceu a licitação e foi responsável por 60% da obra de construção da Cidade Administrativa, orgulho do governo Aércio Neves, com projeto do arquiteto Oscar Niemeyer e com custo de R$ 2,1 bilhões à época, teria pagado propina em percentual de cerca de 2,2% e 3% sobre o valor contratado (10). Se considerarmos que 60% da obra vale R$ 1,160 bilhões, o montante da corrupção praticada na obra de Aécio poderia ultrapassar R$ 55 milhões de reais.
Quanto a Fernando Henrique Cardoso, não bastasse a mal contada história da emenda da reeleição, que o beneficiou, existem evidências de favorecimento de seu filho com contratos públicos. Além disso, a Lava Jato evidenciou que todo o esquema de corrupção na Petrobras vinha desde antes de seu governo e continuou durante, com vários dos supostos “meliantes” do PT tendo sido nomeados para a administração da estatal desde aquela época, como Paulo Roberto Costa (11). O próprio FHC reconheceu ter tido conhecimento da corrupção na estatal e preferido se omitir, para “não mexer naquele vespeiro” (12).
Isso nem é o pior: há evidências de ligações de FHC com uma propina estimada em US$ 100 milhões (dólares) à época, quando a Petrobras negociou a compra da empresa Perez Companc (13). A quantia hoje seria de cerca de R$ 315 milhões (reais).
Como dito, não adentrarei aqui nas enormes quantias de corrupção vinculadas a Michel Temer, Moreira Franco, Romero Jucá, Eliseu Padilha e outros importantes membros do governo golpista.
Ante tais expressivos valores de corrupção, o que faz a Lava Jato? Investiga há três anos a possibilidade de Lula ser dono de um apartamento triplex de 215 metros quadrados, com três quartos, avaliado pela imprensa em pouco mais de um milhão de reais (14) e de um sítio em Atibaia, que valeria, também segundo a imprensa, cerca de oitocentos mil reais (15).
O proprietário do sítio, amigo da família de Lula há décadas, já compareceu em juízo e afirmou ser o legítimo proprietário, comprovando escritura e registro de imóveis. Isso, porém, não basta para a Lava Jato. Se Lula frequenta o local e nele colocou um barquinho de alumínio de quatro mil reais, então a propriedade é do ex-presidente, suspeitam os isentos componentes da operação Lava Jato.
Quanto ao triplex, após prolongada prisão e condenação a pena pesada, o delator Léo Pinheiro finalmente concorda em dizer que o imóvel é de Lula. É bastante provável que, após sucumbir às exigências da Lava Jato, o delator venha a ser beneficiado com alguma redução de pena. O detalhe é que o imóvel pertence, formalmente, com escritura e registro de imóvel sacramentados, à empresa do próprio delator, que dele se utilizou como garantia bancária. Isso, porém, tampouco importa para a imparcial Lava Jato.
Dentro desse panorama de idiotia política generalizada, as Organizações Globo, que de idiota não tem nada, publica editorial, com base na delação do suspeitíssimo Leo Pinheiro, beneficiário direto daquilo que ele próprio denuncia, afirmando que finalmente está provado que Lula é o chefe da quadrilha que corrompeu a política nacional.
Se for verdade, Lula é o chefe de quadrilha mais imbecil da história da humanidade. Enquanto seus adversários políticos, durante o seu governo, amealharam centenas de milhões de reais, ele próprio se contentou com um apartamento e com um sítio que qualquer pessoa de classe média alta pode comprar. Aliás, o próprio Lula poderia comprar com folga, pois durante a instrução do processo criminal foi amplamente demonstrada a percepção de milhões de reais recebidos licitamente para o proferimento de palestras, com vídeos que comprovam terem sido realizadas.
A mídia e a Lava Jato possuem seus propósitos e, de certa forma, os estão atingindo no que concerne à parte da classe média idiotizada, que já possui inclinação a acreditar em qualquer coisa anti-PT. O povo, porém, mais necessitado das políticas públicas do que a classe média, já sentiu o cheiro de podre nesse reino da Dinamarca: as pesquisas indicam que Lula não para de crescer nas intenções de voto. Se for candidato, possivelmente será eleito no primeiro turno.
O povo percebeu que o “ladrão de estimação” propagandeado pela mídia é provavelmente o único dos maiores candidatos à presidência que não tem nada de ladrão e, se tiver se beneficiado pessoalmente com alguma coisa, terá sido por bobagens como obras em sítio que utiliza ou, coisa comum a todo e qualquer ex-presidente, patrocínio da fundação que preserva sua memória histórica.
O povo não é bobo, abaixo a... grande mídia.
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