Um dia depois de o governo anunciar que não conseguiu cumprir suas metas fiscais e entregará rombos ainda maiores até 2019, Michel Temer veio à boca do palco para comemorar as reformas que conseguiu empinar. Eis o que disse o inquilino do Planalto:
"Toda vez que você propõe uma reforma, a primeira coisa é uma guerra brutal contra a reforma, não é? Logo depois, reforma aprovada, o que se verifica nas pesquisas é uma aprovação extraordinária e o silêncio daqueles que protestaram, porque foram obrigados a curvar-se à realidade que aquela reforma trouxe."
Temer se referia à reforma do ensino médio. Talvez tenha sido a mexida mais alvissareira que seu governo promoveu. Mas não há vestígio de aferição que ateste a "aprovação extraordinária" de que fala o presidente. De resto, o ensino reformado significará muito pouco num país que não consegue pagar regularmente nem a faxina nas escolas.
Temer solta fogos num instante em que sua infantaria parlamentar se recusa a aprovar a reforma da Previdência, apresentada pelo ministro Henrique Meirelles (Fazenda) como a mãe de todas as reformas. Sem ela, o teto constitucional dos gastos, outra reforma da qual o presidente se orgulha, será estourado entre o final de 2018 e o ano da graça de 2019.
Prestes a ser abalroado por uma segunda denúncia da Procuradoria, dessa vez por obstrução de Justiça, Temer sinaliza que sua principal dificuldade não é a incapacidade de apresentar soluções. Tomado pelas palavras, o presidente já não enxerga nem os problemas. Passou a viver no mundo da Lua.
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