Os caralhos de São Gonçalo

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Aos hipócritas moralistas sem moral dedico estes doces do tradicional catolicismo português. Que façam bom uso deles.
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Diz a hagiografia que Gonçalo nasceu em Tagilde, Portugal, por volta de 1187. Foi nomeado pároco de São Paulo de Vizela. Visitando Roma e Jerusalém, caiu em angústia por achar que Cristo não devia ser celebrado com pompas.
Gonçalo finalmente encontrou na cultura popular a maneira de falar de Jesus Cristo. Reza a tradição que, quando pregava para as putas, Gonçalo se vestia de mulher, com muitas fitas coloridas, tocava viola e dançava. Usava pregos nos sapato, para mostrar que a alegria da dança curava a dor e era divina e, ao mesmo tempo, para que a mortificação não o deviasse do caminho da fé.
Gostava de organizar bailes para as mulheres da zona. Como vigário, celebrou matrimônios de mulheres que não eram mais virgens, o que irritou os mais tradicionais.
São Gonçalo morreu no dia 10 de janeiro de 1259 em Amarante, no Douro. É considerado o protetor dos violeiros, do piru e das vítimas de enchentes (fato provavelmente relacionado a uma ponte que ele construiu em mutirão sobre o rio Tâmega, para ajudar os mais necessitados que precisavam cruzar o rio para trabalhar).
Em virtude da tradição de celebrador dos matrimônios que a Igreja condenava, São Gonçalo do Amarante tem fama de casamenteiro. Por conta disso, ainda, em seu louvor são oferecidos as tíbias em forma de caralhinhos, patrimônios da cultura portuguesa, como pedido e pagamento de promessa pela alegria nos sortilégios da paixão.
É dos mais simpáticos santos do cristianismo popular das gentes miúdas e o seu exemplo serve pra que parem de dizer que estamos retrocedendo ao mundo medieval; interessantíssimo e bem distante do puritanismo de quinta categoria que grassa nos nossos dias.
De Luiz Antonio Simas 
Pinçado do Facebook de Paulo Cavalcanti


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