Quando se envelhece, há dois caminhos.
O de resmungar todo dia ou o de agradecer ter despertado a cada um deles.
Aos mais jovens, digo: deixem para resmungar no fim do dia, conforme o dia for.
Mas não deixe para reclamar no fim da vida, porque se você reclamar ela parecerá a você mesmo não ter valido a pena.
E se valeu – você pode ter tristezas, sempre as há – não resmungo, alegro-me por isso.
Afinal, em seis décadas, dá para absorver todas as sortes e azares da vida e gostar tanto dos sucessos quanto dos erros que nos ensinaram a alcançá-los.
Crentes ou incrédulos, a véspera de Natal é dia de agradecer, tanto quanto o Ano Novo é dia de desejar.
Mais do que a qualquer pessoa, devo agradecer a todos os que leem o blog e que fazem ter sentido escrever.
E devo, sempre, agradecer-lhes, porque é o fato de ser lido que permite que eu me mantenha fazendo este blog – “sujo”, no discurso da direita – que nunca dependeu e não depende em um tostão de publicidade de governos e nunca a teve do governo federal ou estadual ou de estatais.
Liberdade completa ninguém desfruta, escreveu o mestre Graciliano Ramos – que resmungava muito, aliás – mas eu hoje gozo de uma liberdade que é mais fantástica do que qualquer outra que pudesse imaginar: depender apenas do que penso, do que escrevo e de quem me lê.
No seu Poema de Natal, Vinícius de Moraes nos dizia: “Para isso fomos feitos:/ Para lembrar e ser lembrados/ Para chorar e fazer chorar/ Para enterrar os nossos mortos /Por isso temos braços longos para os adeuses/ Mãos para colher o que foi dado /Dedos para cavar a terra”.
O milagre é encontrar prazer nesta labuta. E o prazer, essencialmente, consiste em corresponder ao desejo alheio. Seja nas relações amorosas, seja nas de amizade, seja no seu lugar na sociedade, esta é a chave que nem sempre podemos encontrar.
Socorro-me de outro poeta para explicar, o Gonzaguinha: Um homem se humilha/Se castram seu sonho/Seu sonho é sua vida/E vida é trabalho/E sem o seu trabalho/O homem não tem honra/
E sem a sua honra/Se morre, se mata”.
Alguns estranharão, talvez, que eu não fale, neste texto, de política. Engano: é dela que falo, todo o tempo, pois é nisso que concentro a minha visão de política: na vontade de corresponder aos desejos do povo ao qual pertenço, desligado do qual seria apenas uma simples ameba.
Quero, por isso, agradecer mesta antecipada véspera de Natal – porque amanhã (ou hoje, conforme você leia) agradecer o prazer que todos os leitores me proporcionam por sentir-me útil em meu ofício e minhas idéias. E, ainda mais, por permitirem que possa seguir honrando ambos, contribuindo para que este espaço em que existo e no qual nos encontramos não desapareça.
Obrigado, um sentido abraço em cada um e cada uma e feliz Natal a todos.
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