(...) sem falar, pensar, dizer coisas articuladas, explicar sentimentos. A vontade de existir em meio a tudo, figurando na paisagem: sem vermelhos, sem artifícios, sem destaque. Em dias assim, eu não tenho profissão, talento, ambições, cicatrizes, nostalgias,coisas do tipo. Eu apenas respiro, olho ao redor, torno-me o redor. Pego o ônibus, o metrô. folheio um livro, escuto uma música sem ouvir.
É tudo deliciosamente sem densidade. Tudo sendo o que dá pra ser, eu sendo o que posso e ninguém me parecendo pensar nisto como eu. Apenas superfície e silêncio. Apenas céu e chuva ou neve ou sol...O vento, o calor, a janela aberta nas casas, o café, o abraço macio na hora de dormir.Apenas isto: tanto de tudo sendo qualquer coisa.Tem dia que é só um dia.Tão bonita é a simplicidade.
Marla de Queiroz
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