Sou antiraças

Não Sou apenas antiracistas, sou antiraças Não reconheço a raça Vermelha Amarela Branca Preta Azul ou qualquer outra cor com que queiram def...

Causo do Uber, por Tom T. Cardoso

Tô no Rio, voltando pra SP. Acabei de chegar no Santos Dumont. Vim de Uber. Chegando no aeroporto, o motorista, com a cara e tamanho do Alexandre Frota, mas normal, lúcido, virou pra mim:
– Iiiii meu irmão, olha lá. Tem manifestação dos taxistas contra o Uber. Vou ter que deixar você bem antes.
Eu estava atrasado. Pulei para o banco da frente.
– Toca em frente. Confia em mim.
Ele foi. Paramos o carro na porta do aeroporto. Lotado de taxista bufando. Descemos. Eu gritei, fazendo cara de choro.
– Jorginho, me abraça! Vou morrer de saudade.
O cara me abraçou.
Eu grudei minha cabeça no peito dele. Dei mais um suspiro e disse:
– Tiamo, gato.
Ninguém desconfiou.
Só o amor salva.
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– Alô, Tom?
– Quem é?
– O Marcos.
– Que Marcos?
– O motorista do Uber. O que você chamou de Jorginho ontem.
– Ahhh sim, tudo bem?
– Tudo bem. Irmão, você foi muito criativo. Nenhum taxista percebeu. Incrível.
– É, a gente se livrou de ser linchado. Não havia outra saída.
– Meu brother, preciso te dizer uma coisa.
– Diga.
– Passei a noite pensando em você.
– Como assim?
– Fiquei com vontade de pegar você no colo. Você gosta de cafuné?
– Marcos, aquilo foi uma performance. Eu não sou gay, cara.
– Eu também não, meu irmão. Sou casado. Mas quando você encostou a cabeça no meu peito, senti algo que nunca havia sentido. Gostei de tudo em você. Do seu cheiro, tudo.
– Do meu cheiro?
– Sim. Você tem cheiro de homem. Você é, sim, especial. Sabe disso.
– Num sei, não. Você não está confundindo os sentimentos?
– Não, quando você grudou a cabeça no peito, eu me arrepiei todo. Da cabeça aos pés.
– Não foi de medo não?
– Não. Foi desejo mesmo.
– Que bom, nunca é tarde para sair do armário.
– Posso ligar para ouvir sua voz de vez em quando?
– Cara, se você se descobriu, logo vai achar alguém pra chamar de seu.
– Mas aconteceu algo especial com a gente. Sabe como se chama isso, Tom?
– O que?
– Q-u-í-m-i-c-a.
– Vou ter que desligar, Marcos.
– Beijo. Tiamo, gato.

Fudeu.

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