O Moacir, o meu vizinho de cima, não é mau sujeito. Gosto dele. É o tipo de cara que compra cabo pra chupeta só para ajudar os outros. Mas todo sábado de manifestação é a mesma coisa. Ele muda o olhar, fica meio vesgo e vira o Hulk da direita. É ele quem lidera o levante até a Paulista dos moradores do Jardim Bonfiglioli. Eu adoro: é o sábado que não tem televisão ligada, churrasco na varanda, futebol na quadra. Por mim o Brasil podia virar a Turquia: um golpe por semana. O problema é a volta da família Moacir. Eles chegam ainda mais raivosos, todos com aquela baba no canto da boca de quem passou a tarde mudando o Brasil. Dei azar de encontrá-los agora há pouco no elevador. Eu tenho é medo da Sônia, a mulher do Moacir. Ela é a mais agressiva da família. O tipo de mulher que liga pra reclamar da falta de catupiry na borda recheada.
Pra piorar, eu estava com a minha camisa retrô da União Soviética, comprada a 98 reais na lojinha da Rua Harmonia. A Sônia-Hulk grudou o olho zarolho no CCCP e perguntou:
- O que quer dizer isso, hein?
- Comando de Caça aos Comunistas da Paulista.
- Ah bom.
Ufa. Eu vivo precisando de chupeta.
Tom T. Cardoso
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