Os principais trechos do discurso de Ciro Gomes, pré-candidato a Presidente pelo PDT, em sabatina na CNI - Confederação Nacional da Indústria -, hoje quarta-feira, em São Paulo:
- 13, 7 milhões de desempregados e 32,2 milhões empurrados pra viver na informalidade, o que é crítico!
- o Brasil não tem como financiar nenhum modelo de Previdência cuja lógica seja a incidência sobre a folha de pagamento
- nunca vi uma crise tão multifacetada como a atual (econômica, social, política e institucional)
- Brasília virou uma Babel. Não há segurança jurídica, nem razoabilidade
- é preciso ter sobriedade
- em 1980, 1/3 do PIB vinha da Indústria; hoje, se forçarmos a mão, a Indústria de transformação brasileira está reduzida a 11% das nossas riquezas
- depois da redemocratização, falhamos na concepção estratégica de País
- ciclos de consumo, insustentáveis, que logo são seguidos por rupturas na taxa de câmbio e seus efeitos inflacionários
- De 80 pra cá, o Brasil cresce 2% ao ano em média
- tem um ciclo de consumo mais generoso na sequência do [Plano] Real, que eu tive o privilégio de fazer com Itamar Franco, que expandiu o consumo, mas não cuidamos da produção. Câmbio se desvaloriza na gestão FHC.
- se Lula tivesse tomado posse hoje, a taxa de câmbio estaria em R$ 9,20!
- o Lula, 12 anos depois, entrega a taxa de câmbio para a Dilma a R$ 1,75
- evidentemente o consumo se expandiu, mas, de novo, o País não cuidou de nenhuma estratégia de desenvolvimento
- repete o filme do FHC
- não quebrou porque o ciclo de preços de commodities financiou aquele boom de consumo
- o Brasil optou por esses ciclos populistas de consumismo que não se sustentam
- hoje o Brasil está proibido de crescer por 3 fatores, que o mercado, sozinho, não pode resolver: pelo único e exclusivo nível de endividamento das famílias e das empresas (mais de 60 milhões no SPC ou Serasa); colapso fiscal brasileiro não é trivial... estamos apontando para um déficit primário de R$ 160 bilhões, porque ainda estamos apurando os efeitos da inconsequência do atual Governo, que manipulou a Greve dos Caminhoneiros, em que fez subsídios e a renúncia fiscal chega a R$ 14 bilhões; e porque qualquer crescimento exponencializa a exportação, apresenta-se um déficit cavalar nas transações correntes e isso imediatamente sinaliza para uma desvalorização da nossa moeda
- não sairemos disso pela reação tópica às fogueiras do dia a dia
- estamos afundando estrategicamente, como País, como nação
- precisamos devolver ao imaginário brasileiro a ideia de projeto nacional de desenvolvimento
- um País dedicado a planejar
- tarefas de fundo: entrarmos numa dinâmica de elevação da formação bruta de capital doméstico (ao contrário do mito, não é o espontaneísmo individualista que gera alto nível de formação bruta de capital)
- o Brasil precisa de um Presidente forte! A quem serve Presidência fraca? A quem serve uma Democracia em que o Presidente da República nomeia um ministro e um ministro do STF, exorbitando frontalmente a Constituição, por liminar proíbe esse ministro de tomar posse?
- o Judiciário brasileiro precisa voltar para o seu quadrado!
- o Ministério Público precisa voltar para o seu quadrado!
- restaurar a autoridade do poder político é uma das graves tarefas
- associar um Governo forte a um empresariado forte!
- precisamos investir em gente
- como fazer isso com um Congresso que tende a ser reativo a um Presidente reformista?
- proponho 3 atenuantes e um fusível:
- propor antes, para que a Eleição não seja mais ao modo caudilhesco de ser do "deixa que eu chuto", do "pai da pobreza". Porque isso já fez muito mal ao Brasil
- primeiro: precisamos eleger alguém que tenha biografia, experiência, vida limpa, mas, mais do que tudo, precisamos eleger ideias. Propostas que tenham força no povo e esse conteúdo plebiscitário atenua a distância entre um Presidente que quer reformar e um Congresso que tende a reagir, porque as novidades sempre são assustadoras
- segundo: desde o General Dutra, todos os Presidentes eleitos se elegeram por minorias no Congresso e todos tiveram poderes quase imperiais nos seis primeiros meses; portanto, o tempo da reforma são os seis primeiros meses
- terceiro: em toda tragédia, há um lado bom; neste momento, a Federação está quebrada. O poder político de Brasília perdeu a capacidade de liderar (há um quadrilheiro na Presidência da República). O poder político que não está desmoralizado está na Federação: Governadores e Prefeitos. Aqui está o caminho para fazer um grande entendimento de uma reforma fiscal em troca do redesenho do pacto federativo, protegendo a Presidência da República dessa crônica de fisiologia, de clientelismo, de aliciamento de políticos salafrários para ocupar cargos relevantes do Governo ou das estatais
- por fim, só remanescerá de conflito a Previdência, e aí é preciso que nós experimentemos chamar o nosso povo diretamente a discutir isso
- na Previdência Social, 2% dos beneficiários levam 25% de todo o benefício;
- quem são? Basicamente os juízes, os procuradores e os políticos
- alguém acredita na ingenuidade de que algum dia os políticos vão mudar isso?
- precisamos mandar isso à deliberação de um plebiscito e de um referendo
Em tempo: após o discurso de Ciro, veio a fase de perguntas da plateia. Ciro chamou a "reforma trabalhista" de "monstrengo" e disse que se comprometeu com as centrais sindicais a rediscuti-la. Ele foi vaiado por uma minoria e reagiu: "Pois é, é assim que vai ser. Ponto final. (...) Se quiserem um candidato fraco, escolham um desses que vêm de conversa fiada para vocês".
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