As mulheres que votarão nele, acham que merecem ser estrupadas. Tem gosto pra tudo! |
Na noite desta terça-feira, desisti da Internet. Fui dormir. Mas não abandonei mouse e teclado em razão das apreensões geradas pela pesquisa do Datafolha.
Pulei fora porque me enojou o viés reacionário machista, à esquerda e à direita, que passou a guiar a análise da conjuntura política.
De repente, entusiastas do #elenão se puseram a responsabilizar as mulheres pelo suposto crescimento do fascista Bolsonaro nas consultas eleitorais.
De novo, equivale a passar pano para o agressor e culpar sua vítima.
É a ideia remodelada e covarde do "quem mandou passear de saia curta?", pergunta retórica repetida todos os dias neste Brasil, nos pontos de ônibus das periferias ou nos espaços gourmets dos condomínios de luxo.
O #elenão foi justo, bonito e, sobretudo, necessário. Pobre de uma sociedade que, acossada pelo fascismo, decide por si só abandonar seus direitos democráticos.
Posso me lembrar das Escrituras e me envergonhar de como o patriarcado religioso reduziu Maria de Magdala a uma prostituta, ela que liderou as primeiras comunas do anarquismo primitivo.
Posso ver também tantas companheiras ardendo nas fogueiras de uma Inquisição que via bruxaria e heresia no conhecimento e na sensibilidade.
E outras que pagaram com a vida, em fábricas da opressão, pela ousadia de exigir correto pagamento e condições dignas de trabalho.
Também as meninas armênias crucificadas em 1915.
Eu me lembro de Edoarda Bindo, a menina gentil que foi assassinada pelas forças da repressão paulista durante a Greve Geral de 1917.
E das adolescentes tibetanas executadas pelas forças de ocupação chinesa.
E me recordo, olhos marejados, de Olga, Pagu, Heleny, Iara, Helenira, Margarida, Ligia, Esmeraldina, Aurora, Zuzu, Sueli, Rose, Dorothy e Marielle...
Como se elas não merecessem os levantes da Batata e da Cinelândia. Como se esses martírios não justificassem as faixas erguidas contra o autoritarismo e a barbárie.
Se existe alguma relação entre o anunciado crescimento de Bolsonaro e as manifestações feministas, deve-se não a elas, mas ao uso deturpado e criminoso das imagens dos atos, manipuladas pela indústria de fake news da direita nacional.
Acordem! Nenhum silêncio subserviente ganhou qualquer guerra contra o fascismo.
A Itália não se livrou do terror mussolinista com subserviência, mas com o sangue e o suor de partigianas como Mimma Bandiera, Carla Capponi, Bruna Bedeschi e Renata Del Din.
E a mãe Rússia somente rechaçou o criminoso exército nazista com a intervenção destemida de companheiras como Roza Shanina e Lyudmila Pavlichenko, snipers competentes e dedicadas.
E tem sido assim, hoje, no território de Rojava, onde um Estado livre, democrático, multiétnico, multirreligioso e cooperativo tem sido construído e defendido, com flores e balas, pelas milícias femininas.
É preciso alçar a voz contra toda e qualquer censura, contra toda e qualquer forma de tortura, contra todo e qualquer sistema repressivo que atente contra a vida humana.
Vivemos uma época de insanidade, maldade e trevas em nosso país. E é justamente agora que as mulheres devem constituir e preservar o lugar de fala da cidadania.
Que ele seja educativo, didático e capaz de reparar os graves danos impostos à frágil teia das relações sociais.
Não há erro grosseiro algum no #elenão. O equívoco monstruoso reside na omissão de quem se esquiva da guerrilha da comunicação.
A falha principal é dos políticos de gabinete, é dos palanqueiros oportunistas que têm sido incapazes de formar as massas para a diversidade.
Eu sinto vergonha. Mas também um estranho entusiasmo, porque nessas horas sempre me vem à mente a frase sediciosa da querida companheira Emma Goldman: "se eu não posso dançar, essa não é a minha revolução".
Ora, sigam em frente, compas! Vamos fazer revolução, e vamos dançar, sim! Juntas e juntos. Que se dane o machismo.
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