A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa. O fascismo a la Bolsonaro se repete como uma farsa. Enquanto o primeiro nascia com um apelo popular, por aqui nasce com apoio nas classes superiores e média. Na tal massa cheirosa.
Nasceu e foi gestada daqueles que, para golpear um governo legítimo, chamaram um capitão do mato, que foi alimentado passo a passo, na medida em que uma mídia sórdida criava os mitos e narrativas. Isto é, criavam as justificativas para uma parcela da população que, definitivamente, foi alimentada pela incultura e ultra especialização. Os que aprenderam ver o mundo através das lentes do status e de discursos auto centrados de auto promoção, auto ajuda unido à crença de que a sociedade é um facebook, ou twitter. São pessoas que tiveram acesso ao que há de melhor na sociedade, saúde educação e padrão de vida.
E não estou falando das tais classes emergentes, eu falo das castas e grupos sociais que de há muito estão bem estabelecidos, falo dos bem nascidos. Eu falo daquela classe média que abraçou o discurso elitizante e pseudo meritocrático, ou o discurso de que a realidade do mundo é o Mercado. Falo dos que, cegos à realidade social, defendem canones desta economia. Eu falo das castas que, por gerações, se apropriaram das instituições do Estado, no judiciário e executivo e, quando na empresa privada, almejam sempre negociar com o estado.
Falo dos que populam universidades, tribunais, ou tem cargos em estatais. E também aos que gravitam em torno deste cenário.
Estes são e foram os que mais aceitaram todo o trabalho da mídia. Afinal este discurso da mídia os empondera e os separa e reforça aquele desejo de se diferenciar do outro. O discurso reforça a diferença entre eles e todo o restante da plebe ignara e com o tempo eles naturalizaram as diferenças sociais. Assim como o naturalizaram o egoísmo e a falta de solidariedade, assim como acham, ou diriam realista, retirar direitos e desempregar o outro. Assim como acham natural pensar que a segurança é uma questão de ter uma polícia ou uma arma para nós. Assim eles não se chocam e vão até mesmo dar suporte e defender a proposta de cercar, fechar e depois bombardear toda uma comunidade.
Junta-se a estes a casta religiosa, que fez dos templos o lugar dos vendilhões. Onde se submeter aos impostos dos dízimos, é pregado junto com a oposição a pagar os impostos federais. Onde ficar rico ou enriquecer alguns é um meio de glorificar a Deus. Mas é também, infelizmente, o lugar daqueles crentes desassistidos que caem no conto, pois o templo é o único lugar onde podem compartilhar seus sofrimentos.
Mas este fascismo não ocorre sem um exército de toga, criado pela pulverização de poder. Onde o poder se espalha por cada comarca, por cada tribunal, e é agora um poder que sequer tem limites, afinal a primeira instância é agora o poder. Emponderados os Procuradores do MP, são chefiados por uma casta que quer o poder e se baseiam num conceito abstrato de que a corrupção é natural naqueles que eles definiram como o outro. Eles têm convicção disto. Mas morrem de dúvidas quanto aos seus, a quem aplicam a presunção da inocência. Uma casta jurídica que investiga, prende, julga e condena e ainda pretende legislar sob os auspícios de um Clero superior do Sepulcro Federal, que pensa os estar usando, mas não percebe que já sem poder, estão sendo usados. A casta do Judiciário transforma a corrupção em noção e adjetivo abstrato que, como adesivo, tem que estar colado nos outros. Ao invés de uma estrela de Davi, estampam a estrela do PT.
Mas o ponto central deste fascismo é dar uma arma para cada um. Uma arma com a qual as pessoas possam se sentir poderosas. Para alguns é a arma que Bolsonaro promete, mas pode ser um cargo de Procurador, ou a comarca para um juiz de primeira instância, ou simplesmente pode ser o poder dos clicks num twitter, num facebook ou nos grupos de Whatsapp. Cada individuo pode amealhar milhões de seguidores ou formar um templo apenas para falar ou manifestar algum pensamento, mesmo que seja doentio. E, principalmente, empondera qualquer outro indivíduo daquela rede, que obviamente passará a ter, logo após aderir, milhares de seguidores se auto reforçando. Cada um pode sentir o poder disto.
O fascismo atual é esta pulverização de poder que faz de qualquer juiz a autoridade máxima, que se sente o intérprete da sociedade, como disse Fux, ou pode simplesmente mandar o exército investigar as urnas eletrônicas, como aquele outro de algum lugar, alguma comarca. No Congresso, os antigos membros do baixo clero, se tornaram mão direita do rei, mas agora querem mais, querem o poder. E assim este fascismo não é mais centralizado ele é feito da pulverização do poder. Um poder falso, pois é de fato o poder manipulável, como os grupos da rede, que sequer sabem se respondem ou não a um robot, ou a um ou mais manipuladores.
Este fascismo é mais parecido com a barbárie, a destruição de padrões civilizatórios, onde os pequenos poderes fazem grandes estragos. Os que iniciaram o processo, com a vã soberba de poder tudo controlar, foram deglutidos pelo mesmo monstro que soltaram. Chocaram o ovo desta serpente de muitas cabeças. Imagino o que agora sente uma cabeça dourada de um partido como o PSDB que em total submissão trouxeram para o seu interior um outro capitão do mato, Dória.
Provavelmente irão aderir correndo à candidatura da barbárie, como sempre pensando que vão controlar o Coiso. Mas agora são reféns da criatura. Mas obedientes às ordens que recebem de longe vão correr para os braços do coiso Coiso para conseguir implementar as tais reformas, o fim do estado, e a privatização de tudo. Para os patrões destes não importa se a bárbarie se instala ou não. Assim estes mesmos patrões financiam suas milícias, do tipo MBL, assim como milícias Zapistas twitistas e da Fake Newistas. E vão criando um candidato que se recusa a propor, e a falar, que nada sabe mas manda twittes contraditórios ao sabor dos acontecimentos.
Assim de Zap em Zap de click em click vão dando a cada elo da corrente, uma sensação de poder total, que se retroalimenta. Basta criar alguma coisa para ver nos clicks de seguidores a sensação de poder, controle e aprovação. O movimento tem uma origem organizada, e talvez centralizada, mas se espalha de forma desorganizada gerando em seus militantes um sentimento de poder incontrolável, um caos um lumpem poder. Os ataques de nível tão sórdido dão a eles um misto de poder e prazer. Afinal, tiveram muitos exemplos de como destruir moralmente alguém através da mídia. A falta de escrúpulos e a crueldade, os chutes mais baixos, se tornaram comuns, quase naturais, e os maiores incentivos aos mais baixos instintos, extasia alguns que desopilam e se sentem livres e poderosos. É uma catarse, feita até em nome de Deus.
A pulverização da sensação de poder é uma arma letal, usada sem peias, e sem nenhum escrúpulo mas com objetivos precisos. O Coiso, contrariamente a antigos fascistas, não governará com o povo, e sequer governará, pois sabemos de suas limitações. Se em sua vaidade tiver a veleidade de governar será colocado de lado, pois seu poder nasceu do ar fétido do golpe, e se tornará um alvo. Ele não tem asas para voar longe e como o mordomo do Jaburu só sobreviverá pulverizando mais ainda o poder e seguindo alguma proposta que não é sua. Este fascismo não tem ideal de raça, ou ideal de nação, tem apenas o ideal de chegar ao poder, custe o que custar.
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