Folha de São Paulo - Esta é a verdadeira polarização: “mercado vive euforia com pesquisas eleitorais”, “Bolsa sobe e dólar cai com pesquisa”. Sobe o candidato que chega à eleição presidencial sem pronunciar, nem sequer uma vez, qualquer coisa parecida com “justiça social” ou “redução das desigualdades”.
O mais apoiado dos candidatos entre os que simbolizam reivindicações da maioria se enfraquece. São os lados na polarização da qual derivam todas as que têm significância no Brasil. E os formadores do poder econômico e suas bases na diferenciação sócio-econômica têm o que comemorar com mais especulações financeiras: a polarização-matriz se confirma.
É uma história de séculos. Sergio Moro e Luiz Fux não inovam. Usam a liberdade que lhes é dada e os métodos que a fraqueza das leis e da moralidade institucional liberam. É impossível supor desconhecimento de um ministro do Supremo sobre o tipo de decisão intocável emitida por um colega.
Ainda assim, Fux pisoteou-a. Em claro envolvimento político e eleitoral. Se assim lhe parecia a decisão de Lewandowski, reconhecendo à Folha o direito de entrevistar Lula, Fux dispunha de recursos legais e éticos para interpor-se.
Não só preferiu driblá-los. Também transgrediu a Constituição que proíbe a censura à imprensa ao vetar a publicação da entrevista se já feita. Nos dois casos, se fez passível da acusação de abuso de poder. Sem problema por isso, acima de tudo importando a convergência das duas decisões para o objetivo de um sistema de poder.
Ao se valer de Antonio Palocci, com um depoimento de meio ano atrás e já divulgado há tempos, Sergio Moro deu um passo a mais na sua carreira tão particular: deixou seu nome associar-se, em ato político, a uma figura do que há de mais desprezível na criminalidade engravatada. Palocci livrou-se, sabe-se lá como, do pouco resultante em processo entre o muito que cometeu como prefeito em Ribeirão Preto. O bando que levou para Brasília, centralizado em uma casa misteriosa e ativo em percursos entre grandes empresários e negócios de governo, não tem interessado a Lava Jato, Moro e a Polícia Federal. Ainda assim, não há dúvida de que Palocci, o mais cínico dos personagens da corrupção, embolsou mais do que qualquer dos incriminados da Petrobras e de fora dela.
Moro usou agora “trechos da delação” de Palocci à Polícia Federal. Claro, há expectativa de segundo turno. Mas Palocci será sempre Palocci. E seria inútil esperar que Moro não fosse Moro. Embora já não se baste para mostrar-se. Sua mulher está nas redes para consolidar, no plano eleitoral e sem a contenção da toga, o sentido da missão de Moro.
Como consolo, sempre há algo bom para ler. Mesmo, e ainda, em jornais. Como a entrevista, na Folha, de Nelson de Sá com o historiador de literatura Stephen Greenblatt, que oferece uma explicação útil para muitas coisas: “Agora nós vivemos num tempo de extrema falta de vergonha”.
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