Artigo do dia


Pibinho cresceu 1%. Lucro das empresas, 100%

Com tanta notícia correndo pela praça, praticamente passou despercebida a manchete do jornal o Valor - que vocês aí chamam de PiG cheiroso - desta segunda-feira (1/4). Literalmente: “Lucro das empresas dobra com corte e novo cenário”. Com base num levantamento abarcando 237 empresas brasileiras com ações na Bolsa, o jornal concluiu: o lucro líquido destas companhias aumentou 100,6% (dobrou!) na comparação com os dados de 2017.


Detalhe: o levantamento exclui bancos, que não conhecem prejuízos há décadas. Se entrassem na pesquisa, o resultado seria mais impressionante.



Alguns exemplos: a Petrobras, considerada falida e quebrada pelos golpistas de 2016, passou de um prejuízo de 0,4 R$ bilhão para um lucro de R$ 25,8 bi. A Vale, assassina de pelo menos 305 brasileiros, cresceu de R$ 17,6 bi para R$ 25,7 bi. A tal falida Eletrobras saiu de um prejuízo de 1,8 bilhão para um lucro de R$ 13,3 bi. O ganho da Ambev avançou de R$ 7,3 bi para R$ 11 bi. Já a CSN obteve um lucro 47 vezes maior graças à “contabilidade criativa” chancelada pelo STF.



A reportagem cheirosa atribui parte do resultado escandaloso a certas tramoias, como a exclusão do ICMS da base do cálculo do PIS e do Confins, aprovada em 2017, adivinha por quem ? Pelo Supremo Tribunal Federal, o mesmo que demorou anos para prometer devolver, sob a forma de gorjetas, o dinheiro surrupiado dos pequenos poupadores pela avalanche de planos econômicos. Já para as empresas, a fórmula foi rapidamente transformada em “créditos fiscais”. O que era débito, virou dinheiro em caixa para o grande capital.



Só na Guararapes, que controla rede Riachuelo, a manobra togada triplicou o lucro nos últimos três meses do ano passado, diz o Valor. Para quem ainda não sabe, o grupo é controlado por Flávio Rocha, bolsonarista de quatro costados e uma espécie de 04 na hierarquia da famiglia no poder. 



Para não pegar muito mal, a reportagem atribui os números também à eficiência de executivos que apertaram o controle de gastos, mesmo com o cenário adverso. Eufemismos são a especialidade das rotativas sabujas.



Onde se lê “controle de gastos”, entenda-se demissões em massa, substituição de trabalhadores protegidos pela CLT por bóias-frias consagrados pela reforma trabalhista, benefícios fiscais via desonerações irresponsáveis, instrumentos como o Refis que adiam pagamentos de impostos sucessivamente para os amigos do rei. 



Se não, como explicar que empresas dobrem seus lucros enquanto o número de desempregados não para de crescer, os salários despencam, as vendas no comércio desabam, a inadimplência sobe e as estatísticas da pobreza só fazem aumentar?



Este é o melhor retrato de um país estagnado, que retrocede na economia, retroage nos costumes e vive uma ditadura de fato com o apoio da mídia, do judiciário, do parlamento, do executivo e de uma famiglia complacente com malfeitores.







A seguir este caminho, teremos um povo cada vez mais pobre e uma ”elite” cada vez mais rica. Os números, às vezes, não mentem. Não me engane que eu não gosto.

Texto de autoria do sereno colunista Joaquim Xavier, que publica exclusivamente para o Conversa Afiada

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