Fila, por Robespierre Amarante

A fila anda, por mais impaciência que se dê à demora, a fila anda!
Uma das que costumo marcar ponto é a da mega-sena acumulada. Esta anda, enquanto o sujeito sonha e ouve planos, os mais mirabolantes.
A mulher já não tão nova, mantém um diálogo imaginário com um discípulo de Pitanguy.
Um moreno, quer se fazer Papai Noel tamanho família, não esquece nem os cunhados.
Tem os Casanovas e Dom Juans comprando casinhas em subúrbios para guardarem seus sonhos de conquista.
A troca de carro, de residência, um novo sorriso, uma viagem de navio, a faculdade dos filhos.
Um acerto definitivo com o agiota já tornado carrapato. 
Tirar do poço aquele amigo que em outras épocas mostrou-se solidário nos tempos de vacas magras.
Uma caderneta de poupança que lhe traga ao fim de cada mês a ilusão de que o dinheiro é para sempre.
Ah! Uma TV daquelas que só o neto sabe controlar, tantos são os recursos.
E por que não, um smartphone para ver e ouvir as últimas dos amigos que já os têm!
E é assim que a fila anda! De tão desligado quase não percebe a mocinha do guichê avisando que falta uma dezena a preencher, e diz:
--- Ponha a dezena do número de minha casa!
Enquanto confere o cartão, lembra do cidadão que estava à sua frente e com tantos planos esquecera de um fundamental:
Contratar um plano de saúde de primeira linha, para nunca mais sofrer na fila do SUS.

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